Bob Dylan, um cantor e compositor norte americano, em 1962 compôs uma canção chamada, Blowin’in the Wind, que, diante do cenário de guerras, opressões e miséria de tantos povos naqueles tempos, fazia as perguntas, que assim foram traduzidas na versão de Diana Pequeno para o português “Quantos caminhos um homem deve andar, para que seja aceito como um homem? Quantos mares uma gaivota irá cruzar, para poder descansar na areia? Quanto tempo as balas de canhões explodirão, antes de serem proibidas? Quantos ouvidos um homem deve ter para ouvir os lamentos do povo? Quantas mortes ainda serão necessárias para que se saiba que já se matou demais? Quanto tempo um homem deve virar a cabeça, fingindo não ver o que está vendo”? No refrão de sua canção, Bob Dylan afirmava que a resposta estava soprando no vento.
Quando eu ainda era jovem, ouvi uma adaptação cristã desta música, a qual dizia que resposta a estas perguntas estava em Jesus Cristo, talvez para indicar com precisão o que o Espírito Santo, o “vento” de Deus, quer nos ensinar, aprimorando as intuições de Bob Dylan.
Esta canção, que marcou bastante a minha juventude e reforçou os ideais que eu já trazia em meu coração, sempre me vem à mente quando me deparo com situações como as que agora estamos vivendo: guerras em várias partes do mundo, deslocamentos de milhares e milhares de pessoas, opressão sem fim de muitos povos pela ganância em acumular e dominar, exploração do meio ambiente sem qualquer respeito pelo amanhã, causando perturbações ambientais que afetam milhares de pessoas, como as que estamos enfrentando agora no Sul do Brasil. Diante de tudo isto, fico pensando na atualidade das perguntas feitas pelo famoso artista e também me pergunto, “até quando tudo isto”?
Quando me recordo do refrão da adaptação cristã desta música, vem ao meu coração a crescente convicção de que a resposta, sim, está na Pessoa de Jesus Cristo! Cada vez mais eu creio que somente no acolhimento de Jesus, manso e humilde de coração é que a humanidade encontrará a paz que tanto anseia. Somente quando aprender o seu estilo, adotar a sua mentalidade, ouvir e praticar as suas palavras é que teremos as respostas para perguntas tão aflitivas, pois, enquanto as nações insistirem em pagar violência com mais violência, a fim de tentar intimidar o outro lado; enquanto usarem estratégias de dominação, colonização e condenação, só farão acuar ainda mais os povos e, acuados, os homens viram feras. Acredito que enquanto a humanidade insistir no modelo de desenvolvimento a qualquer custo, onde os países sonham ser potências comerciais e bélicas, se impondo sobre outros, procurando dominar o quanto puderem as tecnologias em detrimento de outros povos; enquanto pensarem em fazerem os seus cidadãos prosperarem sem se importar com o estado em que os cidadãos de outros países se encontram, se estão passam fome, se estão sem saúde, sem condições dignas para viver, subjugados e tratados como pessoas de segunda categoria, estou certo, não haverá um mundo decente para vivermos.
Jesus Cristo veio mostrar aos homens que a humanidade só pode ser pensada como família única, onde todos são filhos do Pai do Céu e irmãos entre si. Ele veio dizer com a sua vida e a sua palavra, que nada fora do amor fraterno pode subsistir e que se o homem não viver a cultura da paz acima dos seus interesses particulares, não há futuro para a vida na terra.
Certa vez, quando dois dos seus discípulos ficaram indignados quando os samaritanos não quiserem acolher Jesus e desejavam fazer chover fogo do céu sobre eles, o Mestre os corrigiu abertamente, mostrando-lhes que o ódio e a vingança nunca podem ser caminhos viáveis e que os cristãos devem agir de outro modo, ou seja, aprender dele a mansidão e humildade (cf. Lc 9, 50-56). Em outro momento, exortando os discípulos a não buscarem as grandezas e poderes deste mundo, que, Jesus ensinou, são as raízes das guerras, fomes, misérias e tantas outras mazelas, Ele também os exortou a não agirem como fazem os que não têm fé, dizendo: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoritarismo. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20,24-28).
Diante de tanta morte, de enchentes que fazem os pobres ainda mais pobres, de tanta dor desnecessária e evitável, devemos dar o nosso assentimento ao convite de Jesus: “Vinde a mim todos vós que estais cansados… e eu vos darei alívio” (Mt 10,28), pois Ele é a nossa paz e nele repousa a justiça que torna a Terra boa para todos.
Texto de: Dom Walter Jorge
Bispo Diocesano de União da Vitória – PR