Como é lindo o Natal cristão, quando comemoramos o nascimento de Jesus e como é importante recordá-lo, vivenciá-lo, torná-lo presente e celebrá-lo na liturgia e em nossa vida com os mais belos cantos, as mais bonitas celebrações e com o coração embebido de amor e de desejo de paz.
Raniero Cantalamessa, no livro, “O Mistério do Natal”, escreve que, como a Páscoa, o Natal não é somente uma data a ser recordada, mas um mistério a ser compreendido sempre mais e a ser acolhido por meio da piedade; citando São Leão Magno, ele afirma que este grande Padre da Igreja ao falar do mistério do nascimento de Cristo (Sacramentum Nativitatis Christi), afirma que os filhos da Igreja foram gerados com Cristo no seu nascimento, como foram crucificados com ele na paixão e ressuscitados com ele na ressurreição. Naquela noite bendita do nascimento do Salvador, os anjos cantaram anunciando a glória de Deus nas alturas e a paz na terra aos homens por ele amados.
Tal paz significava segundo o conceito bíblico, o conjunto de bens messiânicos esperados para a era escatológica. Em particular, o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo. Chegara a era do restabelecimento da relação filial e pacífica dos homens com Deus. “No Natal vem já anunciado aquele que será o fruto reassumido da Páscoa, porque se trata do início e da conclusão do mesmo mistério. O Natal representa a salvação no estado nascente”. (cf. op. cit. p. 36). Era chegada a paz tão almejada e impossível de ser alcançada pela humanidade, a não ser por meio daquele que é chamado o Príncipe da Paz. O Natal deve levar, pois, cada pessoa a exclamar: nasceu por mim, por amor de mim, para me curar das feridas mortais do pecado!
Diante de um acontecimento de tamanho significado para nós, haveremos de preparar os nossos corações da melhor maneira que pudermos, fazendo do Advento aquilo que os textos bíblicos nos exortam: tempo de preparar os caminhos do Senhor, de endireitar suas veredas, de oferecer-lhe morada em um coração renovado. Não mais ódios, mas busca sincera de paz; não mais divisões, contendas, rivalidades, mas diálogo, busca de unidade, mãos estendidas, pois não se pode querer celebrar o Natal com atitudes incompatíveis habitando em nosso ser. Não se pode pensar que o Cristo queira ser recebido assim.
No entanto, sabemos bem que simples votos e palavras bonitas não farão nossos corações se abrirem. Por isso, mais que compreender o Natal como uma época de sentimentos ternos e de votos natalinos, há que se compreendê-lo como “festa da bondade de Deus”, de um Deus que, por meio da encarnação do seu Filho, pode atingir os homens no mais profundo centro de sua humanidade, vivendo ele mesmo a nossa pobre humanidade; há que se compreender o Natal como possibilidade real oferecida por Deus de mudança de vida e de retorno à santidade perdida, pois que o Amor se encarnou por nós. Não são os homens que conseguem com sua boa vontade produzir a paz tão almejada, mas é o próprio Deus que manifesta a sua boa vontade para com os homens, dando-lhes seu próprio Filho para ser a sua paz e para fazê-los capazes de paz com Deus e entre eles mesmos. Só é preciso acreditar e se entregar sinceramente a esse amor.
Este é o Mistério do Natal, Mistério que não pode ser esvaziado com comemorações inadequadas, superficiais e adocicadas, como matéria de consumo, coisa passageira que depois de consumida já não tem graça. Nada disto pode nos levar à sempre maior consciência de que Jesus nasceu por nós.
Que o nosso Natal seja Mistério de amor a ser vivenciado com o coração purificado, com desejo sincero de viver o perdão e a paz com todos. Que o nosso Natal seja puro Mistério de amor do Deus amor, que continua nascendo por nós e manifestando em Jesus a sua mais pura bondade para com toda a humanidade.
Feliz e Santo Natal a todos!