A família, desde sua constituição, até a morte dos indivíduos que iniciaram essa geração, passa por algumas fases as quais tratarei aqui.
No artigo do mês passado mencionei o papel da família na formação da identidade de seus membros, hoje apresentarei as fases da vida familiar e o quanto conhecê-las é fundamental para entender a dinâmica familiar, entender como as pessoas se relacionam e como enfrentam as crises inerentes a cada etapa.
Mencionarei o estudo de autoras brasileiras que, através de sua prática clínica e trabalho com famílias, contato com suas vivências e pesquisas realizadas, propõem quatro Fases pelas quais as famílias passam, porém, não de forma rígida já que essas Fases sofreram mudanças ao longo do tempo, tendo em vista a diminuição da natalidade, longevidade, diminuição do período da fase adulta, enfim. Fase de aquisição, fase adolescente, fase madura e fase última.
- A fase de aquisição vai da união do casal até a entrada dos filhos na adolescência. É quando a família define seu modo próprio de funcionar. Cada um vem de uma família de origem, com seu modo de ser, pensar e ver o mundo, a partir da união desse novo casal forma-se um novo sistema familiar, que vai em busca de “adquirir” no sentido material, emocional e psicológico. É o momento no qual os indivíduos estão envolvidos no movimento de dar e receber, conquistar e ceder, ser e vir a ser (BERGAMI; BERTHOUD, 1997). A forma com que se relacionam e se adaptam irão repercutir na qualidade das outras fases.
- Família adolescente, quando os filhos entram nessa fase, ocorre que os pais também revivem a própria adolescência, pode ser que eles fiquem divididos entre os cuidados com os pais, avós, sogros e a educação de seus filhos adolescentes. Nessa fase cabe destacar a importância de uma maior abertura ao diálogo em família e entre o casal pois é uma fase que tem suas peculiaridades e que vai exigir maturidade.
- A fase madura ou fase adulta inicia-se com a saída dos filhos da casa, caracterizado como “ninho vazio” que acarreta nos pais, principalmente na mãe sofrimento excessivo por perderem a função de pais, no entanto, essa saída vai proporcionar ao jovem adulto independência psíquica para sua individuação. Essa etapa é caracterizada pela entrada de agregados, netos, o início de perdas na família, os cuidados com a geração anterior, preparo para aposentadoria e cuidados com o corpo tendo em vista o envelhecimento.
- Fase última é quando o casal volta a ficar sozinho, ocorre uma espécie de fechamento de ciclo, alguns padrões se mantem, outros são substituídos, ampliados diante dos novos modelos que integram esse sistema familiar.
O fato de que essas fases são previsíveis não significam que serão fáceis. Acontecimentos como o nascimento de um filho, a saída de casa de um jovem, a morte de um pai idoso pode afetar de forma diferente as famílias, assim como pode causar estresse e dor de formas diferente em seus membros, precisando de ajuda muitas vezes profissional para a transição de uma fase para outra.
Texto de: Geovana Salete Cordeiro Kujiv
Psicóloga clínica – CRP 08/19042
Terapeuta familiar sistêmica com foco no indivíduo, casal e família.
Referências:
Andolfi, Maurizio. A terapia familiar multigeracional: instrumentos e recursos do terapeuta. Tradução Juliana seger Sanvicente. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2018.
BERTHOUD, C. M. E.; BERGAMI, N. B. B. Família em Fase de Aquisição. In: CERVENY, C.M.O.; BERTHOUD C.M.E. E COL. Família e Ciclo Vital: nossa realidade em pesquisa. Casa do Psicólogo. São Paulo, 1997.
Osorio, Luiz Carlos. Valle, Maria Elizabeth Pascual do (org). Capítulo 1. Manual de terapia familiar. Porto alegre: Artmed, 2009.http://www.unitau.br/files/arquivos/category_154/MPB0292_1427286042.pdf