O mês de setembro é dedicado à Bíblia porque no último dia dele é celebrado S. Jerônimo que, a pedido do Papa, traduziu a Bíblia do Hebraico e do Grego para a língua falada pelo povo.
Traduzir é algo maravilhoso e importantíssimo! Sem essa atividade, não poderíamos conhecer nada que não fosse produzido em Português! Livros, filmes, séries, músicas, peças de teatro, inúmeros tesouros seriam inacessíveis para nós, e seríamos privados de grandes belezas e benefícios.
A palavra traduzir vem do Latim “trans ducere”, conduzir (ducere) através (trans), ou seja, um tradutor nos guia pelo caminho que nos conduz a algo (texto original) ou alguém (pessoa que fala outra língua), permitindo que cheguemos aonde sozinhos não conseguiríamos, mais ou menos como Moisés conduziu o Povo de Israel para a Terra Prometida.
Mas traduzir não é uma tarefa fácil! Cada língua se expressa de uma forma, tem suas particularidades, e não é fácil mantê-las e torná-las compreensíveis ao mesmo tempo. Quem traduz fica dividido entre ser fiel ao original e ser compreensível pelos leitores. Se ficar apegado demais ao original, corre o risco de não ser compreendido, tornando seu esforço inútil; se der importância demasiada aos destinatários, corre o risco de deturpar o original, passando de “tradutor” para “traidor”. É preciso passar por um parto longo e doloroso para que esse bebê venha à luz, mas, uma vez que ele nasce, percebe-se que todo sofrimento valeu a pena.
S. Jerônimo fez um grande trabalho, mas, depois dele, muitos outros fizeram a mesma coisa, dando origem a diferentes traduções, às quais temos acesso nas diversas edições da Bíblia (Bíblia de Jerusalém, TEB, Ave Maria, Pastoral etc). Mas ainda há muito a ser feito! Não, não digo que precisemos de mais traduções da Bíblia em Português (e as traduções que ainda precisam ser feitas em outras línguas e dialetos não cabem a nós), mas que ela precisa ser “traduzida” em palavras e atitudes, que a tornem compreensível às pessoas com quem convivemos.
Imagine uma pessoa que está numa situação muito difícil e não tem mais esperança de sair dela. Se ela for deixada por si mesma, sem ajuda, poderá cair num desespero total e até mesmo dar fim à própria vida. Mas se alguém “traduzir” para ela os textos bíblicos que falam do Povo de Israel no deserto sendo perseguido pelo exército do faraó ou os da paixão de Cristo ela verá que, se não encontrou saída ao olhar para os lados, sempre pode olhar para o alto, e pedir a Deus que faça por ela o que fez pelo Povo de Israel e por Jesus: abrir o Mar, dar nova vida.
À primeira vista, parece que esses textos falam do passado, mas esse trabalho de tradução consiste em mostrar que, embora exista um acontecimento histórico concreto ao qual se refiram (e este está no passado), ele representa um padrão, que é revivido muitas e muitas vezes, e que o torna sempre atual, desde que “traduzido” para as circunstâncias do presente.
No dia de Pentecostes, o primeiro efeito da vinda do Espírito Santo foi fazer com que pessoas de diferentes povos ouvissem em sua própria língua as maravilhas de Deus (cf. At 2, 11).
Muitas pessoas hoje, vivendo imersas na tecnologia, tem a falsa impressão de que a Bíblia não tem mais nada a dizer, não passa de uma peça de museu. Elas pensam assim porque não tiveram acesso a uma “tradução” na sua língua, que mostre a relevância e a beleza dos textos bíblicos.
Peçamos ao Senhor que nos conceda a graça de traduzir a Bíblia para a língua dos doentes, dos desempregados, dos drogados, das famílias, dos casais, dos jovens, das crianças, dos idosos, dos adultos, dos empresários, dos agricultores, dos operários, para que todos possam ter acesso às riquezas insondáveis da Palavra de Deus.
Assim como traduzimos nossos sentimentos e ideias em palavras e atitudes, precisamos traduzir também a nossa Fé.
Que S. Jerônimo interceda por nós e nos inspire nessa missão tão sublime.
Por, Pe. Emílio Bortolini Neto
Vigário da Paróquia Santa Bárbara, Bituruna
Imagem Capa-Rafael-Netto