Por, Dom Walter Jorge Pinto
Vocês já ouviram falar na “Economia de Francisco e Clara” ou simplesmente, “Economia de Francisco”? Se não, gostaria de incentivá-los a fazê-lo o quanto antes, pois trata-se de uma iniciativa muito importante e, de fato, imprescindível para o mundo atual.
Em 2019, o Papa Francisco fez um convite a cerca de 2000 jovens do mundo inteiro, bem como a vários especialistas e ganhadores do Prêmio Nobel, em especial de Economia, para um encontro em Assis, na Itália, que seria realizado em março daquele ano para debater a economia mundial e propor alternativas viáveis para uma nova economia (devido à pandemia, o mesmo aconteceu em novembro, de modo virtual). E por que ele fez esta convocação? Para entender as razões vamos nos atentar ao que tem acontecido com a Economia no mundo todo.
Dados atuais coletados no Brasil revelam que cinco famílias mais ricas detêm mais riquezas do que toda a metade da população mais pobre do nosso país (Cf. dados da organização não-governamental britânica Oxfam). Do mesmo modo, se olharmos para o mundo, constatamos que existem 26 famílias possuindo mais riquezas do que toda a metade mais pobre da população mundial. Tais informações revelam uma verdadeira deformação na distribuição da renda tanto no Brasil quanto no mundo, o que causa impactos gravíssimos nos campos social, econômico e ambiental.
O fato é que o modelo econômico vigente nos últimos 40 anos gerou a financeirização da Economia por meio da vertente neoliberal do Capitalismo, ou seja, a Economia deixou de servir à vida das pessoas e passou a servir à especulação financeira. Assim, aplicar o dinheiro em transações financeiras tornou-se muito mais lucrativo do que produzir bens e, sem produzir bens, não há empregos e nem distribuição de renda. É o que o Papa Francisco tem chamado de uma “Economia sem alma”, onde os recursos não são direcionados para onde deveriam, ou seja, para as pessoas, e, em vez de servir a elas, são as pessoas que passaram a servir à Economia. Quantas vezes ouvimos os telejornais afirmar que o tal “mercado” não reagiu bem a certas medidas ou a certos acontecimentos, fazendo parecer que os mesmos são entes vivos e que são eles que devem ou não gostar das medidas a serem tomadas pelos governos, não importando se as mesmas estarão ou não a serviço da vida do ser humano?
O que tem acontecido também é que há um grande desafio plantado em nossos dias: somos quase 8 bilhões de pessoas sendo incentivadas a consumir sem medida e estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria de bilionários. E isto simplesmente não funciona, pois, os recursos da Terra não são infinitos e as massas populacionais que estão ficando fora dos padrões mínimos de qualidade de vida só fazem aumentar cada dia mais, além da visível devastação do meio ambiente.
É por isso que o Papa Francisco, como uma das poucas lideranças que hoje gozam de prestígio mundial e consegue falar ao mundo em suas diversas vertentes, convocou o chamado “Encontro de Assis”, convocando jovens e especialistas a pensarem alternativas que ajudem a corrigir estas deformações tão graves nos modelos econômicos atuais, os quais colocam a vida da humanidade e de todo o planeta em risco gravíssimo, deformações que se tornaram ainda mais perceptíveis com a atual pandemia, que escancarou as desigualdades entre as pessoas e com o aquecimento global, cujas consequências já são possíveis de serem notadas nos revezes apresentados pela natureza.
Ao final desta reflexão, gostaria de conclamar vivamente a todos a procurarem se informar mais sobre esta iniciativa do Papa Francisco, inspirada em São Francisco de Assis e Santa Clara, que trocaram uma vida de opulência por uma de simplicidade e harmonia com a natureza. A “Economia de Francisco e Clara” visa nos dar hoje um caminho viável para uma economia com alma, que substitua o egoísmo pela fraternidade, a acumulação pela solidariedade e coloque o ser humano no centro, em harmonia com os outros seres vivos e com o nosso planeta. Há muitos artigos, vídeos e entrevistas na internet e em outros meios que permitem conhecer melhor esta que é, sem dúvida, verdadeira profecia para os nossos dias.
Texto de: Dom Walter Jorge Pinto
Bispo Diocesano de União da Vitória – PR
Imagem Capa e texto – Fonte: Site jufrabrasil