Como é bonita a Igreja de Jesus Cristo! Quanto a amo! Sei que Cristo a quis e que sobre ela profetizou: “as portas do inferno nunca poderão destruí-la”. Ao longo de seus dois mil anos de existência, fico a pensar por quantas provações passou e eis que aqui está ela: a esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef5,27), não por causa dos homens e de seus muitos pecados, mas por causa do próprio Deus, que a edificou sobre a rocha (Cf. Mt 16,18).
Apesar de tudo isto, fico pensando que muitos católicos hoje já não dão a mínima para a sua Igreja, dizendo crer em Cristo, sem precisar dela. Quase não frequentam mais os seus cultos, seus sacramentos e seus templos. Afirmam que a Igreja é relativa e que sua existência já não tem importância. E então surge para mim uma pergunta que me parece bem séria: e se a Igreja como a conhecemos deixasse de existir? Seria isso realmente irrelevante? Não faria mesmo diferença?
Hoje, é fácil constatar como inúmeras congregações religiosas ligadas à Igreja Católica estão fechando suas portas por falta de vocações religiosas, talvez até por tantos falarem mal da Igreja. Avalio, a partir disso, o número gigantesco de pessoas que a cada ano deixam de ser assistidas pelos lares para idosos que vão sendo fechados, como a assistência a inúmeros doentes deixa de ser realizada nos hospitais sem a presença das freiras e nos tantos e tantos de orfanatos que já não mais atendem a tantas crianças, agora tendo que ir para albergues ou casas-lares. Isto sem falar nas obras de acolhidas de adolescentes para reforço escolar, alimentação, aprendizado de artes e tantas coisas mais. Inúmeras casas onde fervilhava a vida tanto das irmãs quanto de crianças, adolescentes, jovens e idosos, simplesmente jazem abandonadas, postas à venda para dar lugar a algum shopping ou edifício comercial. Enquanto isso, o serviço que era prestado a essas pessoas vulneráveis simplesmente já não existe mais ou quando muito, é realizado pelo Estado, de forma muito precária, na maioria das vezes.
Também me ocorreu se a Igreja Católica fechasse de vez as portas, como querem alguns pela força do querer ou outros pela indiferença, como ficariam milhões e milhões de pessoas, que no mundo são assistidas pelas pastorais sociais, movimentos e organismos ligados à Igreja Católica? Como ficariam milhares de moradores de rua nas grandes cidades, já tão esquecidos e indesejados, se não houvesse mais a Pastoral dos Moradores da Rua? E as crianças atendidas pela Pastoral da Criança? Como ficariam os que são auxiliados pela Pastoral dos Enfermos, a Pastoral Carcerária, a dos Idosos, a Pastoral do Luto e a da Sobriedade? Como ficariam aqueles que se envolveram com as drogas sem os milhares de voluntários que os acolhem nas Casas de Recuperação mantidas pela Igreja Católica? Sei que outras Igrejas, bem como organismos diversos prestam também estes serviços, mas, prescindir do volume gigantesco deles pelo qual a Igreja Católica é responsável, faria uma diferença grande demais para que o mundo não o sentisse sensivelmente. E os milhões de pessoas empobrecidas atendidas pelos Vicentinos e tantos outros? Quem cuidaria deles, quem os conheceria pelo nome e entraria em suas casas da forma como eles fazem?
Por fim, entre tantos pensamentos acerca desta pergunta, me ocorreu ainda a missão prestada pelos bispos, padres e diáconos. Fiquei pensando nos contingentes de pessoas sem esperança que nos procuram, nos casamentos à beira do abismo, nos jovens que não querem mais viver, nas confissões tão necessárias que aliviam almas que estavam se afogando em seus próprios males, no conforto das missas pelos falecidos, nas crianças descobrindo um horizonte de transcendência por meio da catequese, nos valores plantados em seus corações, tão bombardeados por outras “catequeses” da violência, da pornografia na internet, da desconstrução do amor por meio de mensagens que o tratam como produto de descarte.
Bem, acredito que minha lista poderia ainda ir muito mais longe, mas, por tudo o que já expus, pude ponderar que realmente Deus não gostaria que a Igreja Católica acabasse, e isso, sem sequer falar do mais importante sobre a missão da Igreja Católica: que ela existe principalmente para anunciar Jesus, para levar o seu amor aos corações e para conduzir à salvação que ele trouxe todos os que desejarem. Concluí, então, que quem diz não se importar que ela acabe, realmente nunca a conheceu de verdade.
Artigo: Por, Dom Walter Jorge
Bispo Diocesano de União da Vitória – PR