Há alguns anos atrás, a Igreja no Brasil promoveu um grande estudo e também um grande debate sobre as comunidades das milhares de paróquias existentes em nosso país, gerando um importante documento a respeito denominado: “Paróquia, rede de comunidades” (Documento 100, CNBB). O que se pretendia era ajudar os católicos a avançar numa compreensão que mais ajudasse a entender o lugar e o papel das comunidades paroquiais no funcionamento e na organização de uma paróquia. Há muito se questionava o modelo que identificava a paróquia apenas com a sua igreja matriz, relegando ao segundo plano as capelas das comunidades. Da mesma forma, a comunidade ao redor da igreja matriz era tida como a mais importante e para onde deveria se dirigir a maior parte dos esforços do pároco e de toda a paróquia, ao passo que as comunidades ao redor das capelas ficavam com a atenção suficiente apenas para um funcionamento mínimo.
Assim foi se desenvolvendo a concepção das paróquias como verdadeiras redes de comunidades, onde todas as comunidades são tão importantes quanto aquela onde se situa a igreja matriz. Obviamente fica fácil compreender o papel da igreja matriz na unificação paroquial, sendo a igreja-mãe que congrega todas as demais e para onde se direcionam os eventos que ajudam a fortalecer a ideia da unidade paroquial, dentro do espírito de comunhão e participação, que é o modo próprio de ser da nossa Igreja Católica. A igreja matriz é também aquela referência paroquial para a identidade de toda a paróquia, pois traz o título do padroeiro paroquial como uma espécie de selo paroquial, o qual deve ser amado e festejado por todos os paroquianos.
Coisa bonita no desenvolvimento da ideia da “rede de comunidades” é ver que as comunidades onde estão as igrejas digamos “filiais” ou capelas, não se sentem inferiores à comunidade da igreja matriz e nem a comunidade da igreja matriz se sente superior àquelas, pois todos os paroquianos sabem e sentem que estão na mesma paróquia, estando-se na igreja matriz ou naquela capela talvez afastada muitos quilômetros da mesma. O sentido de pertença paroquial, o amor fraterno que une os irmãos paroquianos é de fato tão sentido por todos, que todos se sentem paroquianos da mesma paróquia.
Coisa bonita também é ver que todas as comunidades conhecem os padroeiros das comunidades e sentem alegria em festejá-los com os irmãos paroquianos daquela comunidade, marcando presença na novena ou no tríduo preparatório e, principalmente, no dia da festa do padroeiro daquela comunidade.
O espírito de “rede de comunidades” leva também a muitas atitudes importantes para o pleno desenvolvimento de uma paróquia, pois nenhuma comunidade se sente ou se comporta como se fosse uma mini paróquia, com vida inteiramente autônoma e independente do resto do corpo paroquial, mas se sente corresponsável por toda a paróquia, sobretudo com aqueles mecanismos dos quais dependem toda a paróquia.
Assim, a manutenção da secretaria paroquial, por exemplo, não é vista como responsabilidade somente da comunidade da matriz, mas todas as comunidades; a manutenção do padre e da casa paroquial, do salão paroquial, do centro de pastoral principal, entre outros, também se sabe, exige a participação responsável de todas as comunidades. Não se trata de oferecer um mínimo e lavar as mãos, dizendo ter cumprido a obrigação, mas de verdadeiro compromisso paroquial, amparado por uma compreensão de corresponsabilidade cristã.
Também neste sentido, quando uma comunidade com menos recursos precisa realizar uma obra mais dispendiosa, todas as comunidades se sentem corresponsáveis, guiadas por aquele espírito fraterno que nos lembra o livro dos Atos dos Apóstolos, onde se afirma que ninguém entre eles passava necessidade e que, o povo, ao ver a fraternidade entre eles ia se convertendo pela força de um testemunho que fala mais do que palavras (Cf. At 2,37-47).
Por, Dom Walter Jorge
Bispo da Diocese de União da Vitória – PR