O Dia de Finados é dedicado desde o séc. XI à honra e memória dos mortos. Mas, foi somente no Século XIII que se estabeleceu o dia 2 de novembro como a data oficial. A data favorece também para que os vivos possam unirem-se em orações e intercessões pelas almas dos que já se foram. Neste dia forma-se uma egrégora, que além de interceder pelas almas dos finados, também é capaz de cuidar da dor das pessoas enlutadas.
As tradições do feriado de Finados no Brasil nos colocam em uma atmosfera de lembranças do que vivemos com o ente que faleceu. Estas tradições envolvem os cuidados com a sepultura, a limpeza das lápides, e a decoração com flores. Assim, muitas lembranças são evocadas, o que é necessário e saudável para o processo do luto.
O Dia de Finados serve também para cuidarmos da nossa própria dor pela perda de quem já não vive. Viver o luto é um recurso capaz de auxiliar em seu enfrentamento, então. ‘Finados’ é oportunidade de olharmos para o “cemitério mental” onde dormem os sentimentos negativos, onde jazem as sensações de dor ao lembrar da perda. É este olhar para o luto que o torna suportável, não que o luto seja curado, posto que não é doença, mas sim, enfrentado porque é uma luta vivida um dia de cada vez.
O Dia de Finados nos traz a cura para a saúde espiritual, porque lembramos que nossa vida na terra é um sopro. Assim nos comprometemos a viver uma vida justa porque cremos na vida eterna.
A cura para a saúde física, porque ao reviver e relembrar do ente querido expressamos emoções que talvez, como uma estratégia de defesa, reprimimos, o que consequentemente pode conduzir a problemas físicos. A não expressão das dores do luto, pode gerar doenças físicas pré-existentes ou novos sintomas.
A cura para a saúde mental. A data é importante, pois lembrar dos mortos ajuda na expressão de sentimentos e pensamentos que devem ser compartilhados e não reprimidos. Sua não expressão pode gerar alguns transtornos mentais.
O Dia de Finados nos dá permissão para encarar a perda que talvez ao longo dos dias tentamos não sentir para não lidar com o sofrimento. Quando nós mascaramos o luto, nós estamos apenas adiando o dia em que a morte de quem amamos nos causará muita dor. A vivência da dor insuportável da perda pode ser adiável, mas nunca inevitável.
Com o tempo, a dor da perda não se torna menor, mas suportável se nos fortalecemos todas as vezes que permitimos senti-la. Talvez as lembranças sejam muitas vezes desconfortáveis porque trazem toda a dor, mas, se nos permitimos revivê-las, aprendemos que podemos suportá-la, e viver apesar da dor do luto. Então, não deveríamos temer lembrarmos da pessoa que amamos. São essas lembranças que nos levarão a um momento de paz. A autora Molly Fumia resume este momento de forma poética: “Se eu tenho que vestir esta capa do luto, então, que ela seja feita do tecido do amor e costurada com o bom fio de lembranças”.
No Dia de Finados lembramos também que não estamos sozinhos em nossa dor. As experiências que temos neste dia, quando lembramos juntos em comunhão e partilhamos o mesmo sentimento, nos ajuda a viver o luto.
Portanto, a vivência do Dia de Finados é um momento não somente para honrar e homenagear aqueles que já partiram, mas também, para cuidar de nossas próprias dores que o luto nos causa.
O luto não é uma doença e muito menos um sinal de fraqueza, mas uma necessidade espiritual, física e mental. É medido pelo tamanho do amor que sentimos pela pessoa falecida e o único “tratamento” para o luto, é viver o luto.
Lembremos também no Dia de Finados que a vida é um sopro, que devemos cuidar de nós mesmos ao longo do processo de luto e, sobretudo, lembrar que não estamos sozinhos em nossa dor.
Texto: Daniele Jasniewski
Psicóloga CRP 08/12483
Mestre em Psicologia
Especialista em Situações de Perda e Luto