NOSSA SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO APARECIDA
Por, Dom Walter Jorge
A Igreja, desde o seu início, viu na Virgem Maria, um sinal da presença favorável de Deus, por meio da sua materna intercessão.
Desde a origem da Igreja, Maria esteve presente à caminhada da Igreja, quando a mesma nascia na cruz e em Pentecostes. Já em seu nascimento, a Igreja pode contar com a intercessão de Nossa Senhora, assim como fez naquelas bodas de casamento, em Caná da Galileia, quando, a seu pedido, Jesus realizou o primeiro sinal, mudando a água em vinho.
As manifestações de Maria, por meio de suas aparições ao longo da História, autenticam a fé da Igreja na sua maternidade espiritual originada do testamento da cruz, quando Jesus lhe entrega a mesma, como se pode ler em Jo 19. Tais manifestações são sempre precedidas de sinais maravilhosos e inúmeros milagres.
Aparecida, para os católicos brasileiros, é sem dúvida, a maior destas manifestações marianas.
Ocorrida em 1717, quando de uma pescaria no rio Paraíba do Sul, nas imediações de Guaratinguetá, no Porto de Itaguaçu, a pesca miraculosa da pequenina imagem enegrecida pelas águas do rio e quebrada em duas partes, cabeça e corpo, Aparecida se tornou logo o epicentro de uma devoção que se espalhou rapidamente por todo o território brasileiro. Quem vai ao grande santuário mariano de Aparecida pode perceber ali uma atmosfera envolta em sagrado mistério gerador de devoção e alegria. A presença da Virgem Mãe de Jesus é inebriante, seja quando se reza diante da sua pequenina imagem miraculosa, seja pela participação no Santo Sacrifício da Missa, quando as páginas dos evangelhos nos remetem à mesma fé de Maria, mãe e primeira discípula.
Interessante notar que o fato maravilhoso de Aparecida aconteceu dentro de um contexto de grande opressão gerado pelo colonialismo português no qual, sobretudo, os pobres, e ainda mais especialmente, a população negra padecia grandes sofrimentos. Assim como em outras aparições marianas, os pobres são os primeiros beneficiários dos favores e da mensagem da Virgem, sempre apontando para a conversão de todos ao evangelho de seu filho Jesus. Em cada uma destas manifestações pode-se claramente concluir de suas mensagens a mensagem maior que Maria sempre procurou incutir em seus filhos: “fazei tudo o que Jesus vos disser”.
Portanto, a identificação de Maria com as dores do povo, só fazem confirmar o seu papel materno em nossa fé, pois qual mãe não ficaria ao lado de seus filhos em seus sofrimentos? Porém, longe de afastar da verdadeira fé ensinada por Jesus, a genuína fé mariana converge sempre mais ao essencial: a fé na Trindade Santa, onde o amor consolador do Pai se manifesta por meio da salvação na pessoa de seu filho Jesus, chegando a cada fiel por influxo do Espírito Santo.
Curioso notar o fato de que a escravidão dos negros tenha terminado em 1888, mesmo ano da dedicação da primeira basílica, a hoje chamada “basílica velha”, em Aparecida. A imagem negra da Senhora, aparecida no auge da escravidão, como a querer trazer um alento aos filhos mais oprimidos, agora parece festejar o fim de sua opressão oficial.
“Foi em 1929, no encerramento do Congresso Mariano, que Nossa Senhora foi proclamada Rainha do Brasil, sob a invocação de Aparecida … e em 1931 foi aclamada Rainha e Padroeira do Brasil” (Cf. Sgarbossa, M. e Giovannini, L., Um santo para cada dia, p. 327. Paulus, 5ª ed, 1996).
Este dia solene de hoje nos remete a todos estes fatos, a fim de que, fazendo memória das ações de Deus na História, possamos revigorar a nossa fé.
Maria é a “mulher vestida de sol”, figura da Igreja, com a qual se mistura e identifica, a nos abrir os caminhos para uma confiança inabalável em Deus. À Igreja, que somos todos nós, os batizados, ela continua a dizer com convicção: “fazei tudo o que o meu Filho vos disser” (Jo2, 1-12), incutindo-nos a certeza de que, ao obedecer à voz de Jesus, não sairemos desiludidos.
Como em outros tempos difíceis da História, como nos relata também o Livro do Apocalipse, na segunda leitura, deverá a Igreja confiar e combater com o seu Senhor, a fim de vencer o dragão, que embora pareça tão assustador, não pode devorar o “Filho da mulher”, nem tampouco os filhos que por ele foram gerados para ela. Neste momento de encruzilhada da História, onde já não podemos nos firmar no que passou, mas o novo ainda não se configura completamente, muitos poderão ficar perplexos, parecendo-lhes que Deus se faz ausente das lutas do cotidiano. No entanto, como nos afirma a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nas suas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja (DGAE 2019-2023), Deus mora nessas novas realidades urbanas e dará aos que nele creem as luzes e forças necessárias ao correto enfrentamento dos novos desafios.
Assim, apoiados pela materna intercessão da Senhora Aparecida, haveremos de responder à falta de sentido para a vida, hoje presente em muitos, e em especial em jovens, com o Evangelho de Jesus; também com ele haveremos de nos alegrar com o jeito sempre novo de Deus de fazer justiça, de nos dar a paz almejada e o modo correto da nova fraternidade que precisamos aprender com o advento do maligno fenômeno das fake News e das agressividades por ele geradas no povo brasileiro.
Maria, a Senhora Aparecida, como a nova e definitiva rainha Ester diante do verdadeiro rei e senhor, Jesus Cristo, nunca se cansará de interceder pelo povo que lhe foi confiado.
Unindo-nos ao coro do povo brasileiro que hoje entoa a singela canção, saudemos a Mãe de Jesus e nossa: “Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida; viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida…!”.
Dom Walter Jorge – Bispo Diocesano
União da Vitória, 12 de outubro de 2019
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