Profissionais que se dedicam ao estudo do luto afirmam que a duração do processo de enfrentamento da dor costuma ser de doze meses, um ano, ou seja, quatro estações. Embora as pessoas respondam ao luto de maneiras diferentes, de fato, o primeiro ano após a perda é comumente o mais difícil para todos os enlutados. Assim, compreendemos que ao perder um ente querido é preciso passar por todas as estações do ano para que possamos começar a reorganizar nossas vidas após essa experiência tão dolorosa.
Concomitante a passagem das quatro estações, os estudiosos do luto também sugerem que a pessoa enlutada permita-se vivenciar se não todas, ao menos algumas das fases do luto, as quais são sempre etapas normais, naturais e saudáveis de serem vivenciadas ao longo da dor da perda.
As fases do luto para quem perde um ente querido, foram propostas pelo psiquiatra Britânico Colin Murray Parkes o qual identificou que existem quatro estágios para a vivência de todas as experiências que a morte de alguém que amamos nos traz. Colin Murray Parkes ainda revela que estas quatro fases não ocorrem de maneira linear nem seguem uma ordem cronológica, podendo ocorrer mais de uma ao mesmo tempo ou alternando-se entre si, e ainda, não apresentando uma duração específica para cada uma delas. As quatro fases propostas por Parkes são:
Fase do choque ou entorpecimento:
Nesta etapa sentimos uma espécie de anestesia, um desligamento da realidade, uma sensação de que estamos atordoados ou perdidos. É quando negamos o que ocorreu, frases como; “Parece mentira! Não é verdade! Isso não aconteceu!”, são muito comuns na fase do entorpecimento. É extremamente difícil a assimilação de que a morte realmente aconteceu e nesta fase, nada parece ser real.
Fase da revolta ou protesto:
Aqui sentimos emoções muito fortes e experimentamos um grande sofrimento psíquico. É comum sentirmos raiva e atribuirmos culpa que se dirigem a diferentes pessoas; a nós mesmos, aos médicos ou até mesmo à própria pessoa falecida por ter nos deixado. Nesta fase, sentimos uma mistura de emoções, angústia, tristeza, saudade, preocupação, remorso por algo que fizemos ou dissemos ou algo que não fizemos ou não dissemos à pessoa falecida.
Fase da depressão ou desespero:
Fase que pode apresentar afastamento das atividades da rotina diária. Neste estágio, a pessoa em luto pode perder o interesse pelas coisas que antes gostava de fazer, apresenta apatia e dificuldades em desenvolver as tarefas do dia a dia. É possível observar algumas alterações de sono, de apetite e de humor e na maioria das vezes, a pessoa enlutada prefere ficar em casa, sozinha e em silêncio.
Fase da reorganização ou recuperação:
Quando está nesta etapa, a pessoa em luto dá início a uma reorganização da vida, começa e construir uma nova identidade, agora, identifica-se como uma pessoa que perdeu alguém que ama. Na fase da recuperação, inicia-se a compreensão de que a vida não será mais a mesma, pois a pessoa falecida não voltará jamais, mas, ainda que a vida esteja diferente, a fase da recuperação nos mostra que é possível continuar a viver apesar da dor.
Quanto ao Tempo de duração de cada Fase:
Não podemos afirmar que exista um tempo delimitado para que cada fase do luto ocorra, nem tão pouco podemos dizer que as fases se dão uma logo após a outra, pois, muitas vezes, essas etapas ocorrem juntas. Dizer que uma pessoa chegou na fase da reorganização não significa dizer que ela esqueceu o ente querido que morreu, mas sim, que ela está começando a restaurar sua própria vida e retomar suas atividades cotidianas em um mundo onde seu ente querido não mais existe fisicamente. Chegar na fase da reorganização significa afirmar que apesar do pesado fardo do luto que carregamos, conseguimos prosseguir a vida após passar pelas dores e emoções intensas que a morte de alguém que amamos provoca.
Então, a reorganização só pode ocorrer após a vivência do enorme sofrimento psíquico, da vivência de momentos que se alternam entre depressão e revolta, raiva e culpa, saudade e angústia, mas, é principalmente com a passagem de quatro estações do ano após a perda, que poderemos dizer que começamos a nos reconstruir após termos sido devastados pela morte de quem tanto amamos. Ou seja, se perdemos alguém no outono, será no próximo outono que iremos começar a perceber a lenta e gradativa retomada do curso de nossas vidas, apesar da ausência, da saudade e da dor.
*Dedico este texto ao Senhor Antonio Jasniewski, falecido na primavera de 2018 a quem tive a honra de chamar de MEU PAI.
Por, Daniele Jasniewski
Psicóloga CRP 08/12483
Postagem: Pascom Diocesana