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A Igreja sempre dedicou ao tema da família uma série de documentos e textos de reflexão. E não poderia ser diferente, dada a importância da família no plano de Deus e, por isso mesmo, também no plano da Igreja. Recordemos, por exemplo, a importante exortação “Familiaris Consortio”, de São João Paulo II, publicada em 1981; também o Concílio Vaticano II, na constituição pastoral “Gaudium et Spes”, de 1965, já havia se dedicado a refletir sobre o tema da família, no conjunto da reflexão sobre a Igreja no mundo contemporâneo.
Mais recentemente, no pontificado do Papa Francisco, a Igreja oferece para nossa reflexão a Exortação Apostólica “Amoris Laetitia”, publicada em 2016, que nasceu das reflexões do Sínodo dos Bispos sobre a família, realizado em 2014. A tradução da expressão latina “amoris laetitia” é “a alegria do amor”. É justamente sobre a alegria do amor, vivido em família, que o Papa Francisco escreve essa importante e atual mensagem para todas as famílias. Nas suas palavras, assim podemos ler: “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja” (n. 1). E continua o Santo Padre: “Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio (…) o desejo de família permanece vivo, especialmente entre os jovens, e isto incentiva a Igreja. Como resposta a este anseio, o anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia” (n. 1).
Nos artigos publicados nessa coluna, vamos nos dedicar a refletir sobre alguns trechos destes tão importante documentos da Igreja sobre as famílias, suas alegrias e tristezas, suas vitórias e seus desafios, suas crises e suas conquistas. Esperamos assim oferecer alguma contribuição para as famílias, para que possam viver “a alegria do amor” iluminadas pela Palavra de Deus e pelo ensinamento da Igreja.
A exortação “Amoris Laetitia”, logo no início do seu primeiro capítulo, mostra como a família está presente na Bíblia, do começo ao fim dos livros sagrados. Nesse sentido, assim escreve o Papa Francisco:
“A Bíblia aparece cheia de famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares, desde as primeiras páginas onde entra em cena a família de Adão e Eva, como seu peso de violência mas também com a força da vida que continua (cf. Gn 4), até às últimas páginas onde aparecem as núpcias da Esposa e do Cordeiro (cf. Ap 21, 2.9)” (Exortação Amoris Laetitia, n. 8).
Assim podemos compreender que, nos desígnios de Deus, a família não é um elemento secundário, mas essencial. A condição humana da família, descrita no Gênesis, torna-se condição espiritual e divina no relato do Apocalipse. Em outras palavras, poderíamos dizer que Deus criou a família, no plano natural, para elevá-la à vida espiritual, junto d’Ele. A trajetória da família é, portanto, de elevação para Deus e de santificação, jamais de degradação e de mundanização.
Outro elemento que nos faz compreender a centralidade da família no projeto de Deus é a vida de Jesus. Deus mesmo, feito homem em Jesus Cristo, quis nascer no coração de uma família. A família de Nazaré torna-se, desse modo, exemplo para todas as famílias, pois ali o próprio filho de Deus tornou-se um de seus membros, vivendo as alegrias e as tristezas da condição humana. E assim escreve o Papa Francisco:
“Cada família tem diante de si o ícone da família de Nazaré, com o seu dia-a-dia feito de fadigas e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, experiência que ainda hoje se repete tragicamente em muitas famílias de refugiados descartados e inermes. Como os Magos, as famílias são convidadas a contemplar o Menino com sua Mãe, a prostrar-se e adorá-Lo (cf. Mt 2,11). Como Maria, são exortadas a viver, com coragem e serenidade, os desafios familiares tristes e entusiasmantes, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus (cf. Lc 2,19.51).
No tesouro do coração de Maria, estão também todos os acontecimentos de cada uma das nossas famílias, que Ela guarda solicitamente. Por isso pode ajudar-nos a interpretá-los de modo a reconhecer a mensagem de Deus na história familiar” (Exortação Amoris Laetitia, n. 30).
Não sem razão, Jesus nos ensinou que devemos nos relacionar com Deus do mesmo modo como os filhos se relacionam com seu pai. Ao ensinar a oração do Pai Nosso, síntese da espiritualidade cristã, Jesus não deixou de lado a importância de nos considerarmos membros da grande família dos filhos de Deus.
E continua o Papa Francisco a nos ensinar: “As duas casas de que fala Jesus, construídas ora sobre a rocha ora sobre a areia (cf. Mt 7,24-27), representam muitas situações familiares, criadas pela liberdade de quantos habitam nelas” (Exortação Amoris Laetitia, n. 8). De fato, nos tempos atuais, vemos que a realidade das famílias alterna-se entre a alegria de quem construiu a sua casa sobre a rocha e a tristeza de quem ergueu sua casa sobre a areia. Com efeito, nos tempos de hoje podemos ver muitas famílias felizes e realizadas, ao mesmo tempo em que vemos tantas famílias que perderam o rumo e afundam-se nas areias movediças dos contra valores pregados aos quatro ventos.
Sobre isso é importante recordar as palavras de São João Paulo II, quando assim escreveu: “A família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais” (Exortação Familiaris Consortio, n. 1).
Apesar dos desafios e das dificuldades que rondam as portas de nossas famílias, é preciso caminhar iluminados pela fé. Jesus mesmo nos convida a acreditar que o mal não tem a última palavra: “Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). É isso o que Jesus fala a cada uma de nossas famílias, que vivem com suas casas açoitadas pela chuva e pelos ventos fortes das ideias do mundo: “Coragem, eu venci o mundo”.
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