Tenho para mim que a internet está levando a humanidade à uma overdose de si mesma. A espiritualidade, as relações sociais, o contato tão necessário com a natureza, o silêncio, e tantas coisas fundamentais ao equilíbrio do ser humano estão ficando à parte, para dar lugar a um mergulho insano em um oceano de informações superficiais, notícias sem fim sobre tudo (e nem sempre verdadeiras), excesso de imagens, curiosidades intermináveis e coisas semelhantes.
O homem tem bebido doses cavalares de criações feitas por ele mesmo, de análises sobre tudo e todos e, por vezes, feitas por gente que não entende muito sobre o assunto; tem se “entupido” de falatórios sem fim sobre tudo quanto há, até à um limite insuportável, que tem intoxicado a humanidade, produzindo gente cansada, nervosa, irritada, neurótica e com os nervos à flor da pele, dispostas a brigas por um nada, muitas vezes apenas por opiniões e posições frágeis, sem muita racionalidade e por vezes muito passionais.
Afogado por uma excessiva exposição ao que o humano pode produzir pelo meio virtual, a humanidade tem vendido a preço baixo a sua liberdade, cedendo seus dados pessoais e os de sua vida particular aos algorítimos, que vão exercendo domínio sobre ele cada vez mais, dando-lhe sempre mais o que ele mesmo deseja consumir, de acordo com os seus gostos, por vezes já acríticos, manipulando-o e formando sua posição diante do mundo de acordo com interesses alheios a ele mesmo, ao seu próprio bem e conforme aos interesses das grandes big techs.
Onde nos levará um estilo de vida assim? Apesar dos benefícios que por um lado traz, seremos uma humanidade melhor com o advento da internet?
Dom Walter Jorge Pinto
Bispo Diocesano