Jesus nos ensinou a rezar ao Pai pedindo que viesse a nós o seu Reino, ou seja, que Deus reinasse sobre nós, a fim de que a sua vontade fosse feita na terra como é feita no céu. Ora, o céu representa a plenitude de todo o bem, de toda beleza, bondade e harmonia. Querer, pois, que Deus reine sobre nós, é querer que na terra nos encaminhemos para aquela mesma situação do mais completo bem-estar que o céu representa.
Os reinados humanos têm se sucedido na terra juntamente com a história da humanidade, e, infelizmente, vemos com eles todo tipo de aberração, exploração, injustiças e maldades. O reinado do homem, desde a era dos reis, até a era dos ditadores atuais ou dos grandes magnatas do nosso tempo, cujas corporações ditam os rumos das nações, “reinando” no lugar dos governos eleitos, tem produzido tanto a exploração das pessoas quanto à exaustão da terra. Em nome do acúmulo de fortunas que nunca parecem ser suficientes para quem as possui, e do consumismo, que, em muito, visa trazer algum alento para quem se encontra vazio de sentido, o que vemos é um total desrespeito pela obra do Criador.
O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, foi colocado como administrador da terra, que não lhe pertence, mas que lhe foi dada para sua morada e sustento na sua curta jornada de anos sobre ela. No entanto, ávido pelos lucros que ela pode lhe render, este mesmo homem, esquecido de que é parte da natureza, fere a “carne” da terra para lhe arrancar até o último de seus metais preciosos, destruindo as fontes de água, contaminando os rios, destruindo as matas. Para aumentar seus rebanhos e suas plantações, não hesita em queimar as florestas e matar toda a vida silvestre, poluindo o ar e desestabilizando o meio-ambiente, proporcionando assim, o aparecimento de novas doenças trazidas pelos insetos que passam a habitar as cidades.
Apregoando um progresso a qualquer custo, procura explorar os mares, arrancando de suas profundezas o petróleo e jogando em suas águas bilhões de toneladas de lixo, que matam a vida marítima, destroem corais e comprometem a produção do oxigênio na terra. Apregoando uma revolução tecnológica sem fim e sem controle, acaba se tornando vítima da mesma, trazendo distúrbios mentais para crianças e adolescentes e produzindo montanhas de lixo cibernético ao preço da destruição das montanhas onde abundam os minérios e as águas.
Até quando seremos assim tão estúpidos, destruindo a casa em que vivemos, coisa que nem os animais irracionais fazem? Até quando nos julgaremos donos de um planeta que não nos pertence e que deve servir de morada também para os filhos que Deus quer nele ainda colocar? Onde foi que perdemos o temor de Deus para nos esquecermos que deveremos prestar contas acerca do modo como tratamos a obra que é a sua e não nossa? Por que insistimos em reinar no lugar de Deus, em estabelecer o nosso reino, o nosso modo de vida e não o dele? Por tudo o que estamos vendo na atualidade, não nos é ainda possível perceber que o reino humano não se sustenta sem Deus? Até quando insistiremos em impor nossas vontades acima da vontade santa daquele que criou todas as coisas e sabe mais a respeito da vida do que nós?
Cientistas de todas as áreas têm apontado que estamos próximos de um ponto de inflexão em que não haverá mais volta, pois a natureza não conseguirá mais se recuperar. Também as Campanhas da Fraternidade e o Papa Francisco há muito alertam para os perigos a que estamos expostos por nosso trato errôneo com o planeta. Até quando insistiremos em não ouvir nada disto?
Texto: Dom Walter Jorge Pinto
Bispo Diocesano