Não é difícil perceber que esse assunto causa uma provocação no pensamento, oportunizando uma reflexão, levando cada pessoa, cada fiel ir além das respostas prontas que cada um tem a dizer, com base nas experiências vividas em sua localidade.
Cada Comunidade da Diocese de União da Vitória tem sua realidade específica, com desafios diferentes, algumas com recursos econômicos maiores, outras, menores; algumas com uma ação evangelizadora pastoral mais ampla, outras com dificuldades maiores quanto ao cuidado na infraestrutura, assim como na disponibilidade de pessoas para ajudar.
Frente à algumas dessas dificuldades é que muitas Comunidades alegam a necessidade do uso da bebida alcoólica nas festas e promoções, acreditando que sem a venda da bebida de álcool, ficaria difícil manter financeiramente a comunidade. Ainda há quem expresse a dificuldade do controle do consumo desta bebida nas festas, alegando que mesmo a Comunidade não vendendo, há aqueles que trazem a bebida para a festa, comprada em outros locais.
“Posso dizer que a conscientização das pessoas à não venda de bebidas alcoólicas é bem desafiador. Não só porque boa parte de lucro vem delas, mas também devido à dificuldade do controle desse consumo. Muitas capelas não têm pátio fechado, então a pessoa pode trazer a bebida e consumir na festa, e a segurança não consegue controlar isso, além do desconforto em ter de repreender essas pessoas”, comenta Luis Parastchuk, de União da Vitória.
Uma experiência positiva e que deu certo quanto ao não uso da bebida alcoólica, vem da Matriz Nossa Senhora do Rocio, de União da Vitória.
“Em 2014, tivemos uma enchente em União da Vitória, com pessoas desabrigadas, e algumas abrigadas no salão paroquial e nas salas de catequese.
Tínhamos uma festa marcada para julho e estávamos na dúvida se faríamos ou não a festa, porém, com a baixa das águas, resolvemos com o Conselho fazê-la. Em uma reunião meses antes, optamos por não vender a bebida alcoólica.
Na semana da festa estávamos todos preocupados e até comentei com o Pároco na época que seria um fracasso. Lembro que ele me disse: “Vamos entregar à Providência Divina, e fazer a nossa parte. Nós não saindo no prejuízo, está bom”. Para nossa surpresa o lucro superou 3 vezes o valor de festas anteriores. Desde aquele ano, nunca mais foi vendido bebida alcoólica nas promoções da Paróquia, e o resultado é sempre muito bom. Vimos que com o dinheiro que se gastaria em cerveja, a família compra para o filho mais um pastel, um espetinho, ou um cachorro quente”, testemunha Dilmarise Ap. ª Limas de Souza.
O desafio que vem sendo proposto pela Igreja, de se tirar o álcool das festas é certamente um passo difícil para algumas comunidades, seja devido ao financeiro, e porque não, até devido a um costume cultural implantado.
Sem dúvida que a Igreja, por meio de seus Pastores (Padres e Bispo) tem um olhar prudente para essas questões, e deseja que os passos sejam dados aos poucos, a começar pela mudança de mentalidade.
A necessidade de uma divulgação e trabalho mais intensivo quanto à devolução do dízimo por parte dos fiéis, sabendo que este é retorno à Deus, por meio da Comunidade de Fé que se frequenta, daquilo que temos e conquistamos como graça de Deus, é uma mudança fundamental.
A comunidade deve viver em especial da contribuição dos fiéis, do dízimo, das ofertas, doações, até podendo realizar sem dúvida alguma promoção, como gesto de celebração de algum evento marcante para ela, contudo, não sendo a festa uma necessidade para o financeiro.
Há de se convir, e os que estão à frente das festas e promoções, os desafios cada vez mais frequentes de se encontrar pessoas para ajudar nas festas, exigindo uma sobrecarga enorme de trabalho para poucos.
Um testemunho vindo da Comunidade da Vila Amaral, de São Mateus do Sul, contou que o lucro com a bebida alcoólica em si, frente ao trabalhoso serviço para realizar a festa, não compensou o esforço.
“Há muito tempo tentamos eliminar o comércio de bebidas aqui, pois víamos que o lucro estava sendo muito pequeno perto do serviço que dava a organização da festa. O total da festa deu pouco mais de 19 mil reais, sendo que o bar deu pouco mais de 900 reais, contando com a venda de água, refrigerante e cerveja. Pouco lucro e muito serviço”, disse um dos membros da Comunidade.
Por isso que, o investimento na formação da consciência de todos de que o trabalho com o dízimo deve ser uma ação prioritária no momento atual, é urgente e necessário.
Em 2012, o Estatuto da Diocese, aprovado ‘ad experimentum’, traz no Cap. 11, inciso 11.2.1 o seguinte texto: “As Comunidades da Matriz e Capelas promovam a sobriedade com relação às bebidas alcoólicas nas festas e promoções. A lei civil proíbe a venda dessas bebidas a menores de idade. Como acompanhamento das refeições, elas serão permitidas com moderação. São bem vindas as iniciativas de promoções sem bebidas alcoólicas”.
Avançando além desta diretriz de 2012, o atual Plano Diocesano de Ação Evangelizadora da Diocese, 2020-2024, traz no § 171 o seguinte texto:
“Ao mesmo tempo precisamos trabalhar para a reimplantação da Pastoral do Dízimo e fazer dele a fonte de recursos para o sustento das atividades da Igreja, precisamos também, diante do alarmante crescimento dos casos de alcoolismo e dos problemas ligados a ele que afetam e põem cada vez mais em risco a vida das famílias, rever o modo de realização de nossas festas e promoções comunitárias, sejam elas as do padroeiro ou outras. Urgente se faz a retirada das bebidas alcoólicas, cujo compromisso foi pedido pelos bispos e assumido pelas dioceses de nosso Regional Sul 2 desde o ano de 2014”.
Diante das positivas experiências de diversas outras comunidades e matrizes, da Diocese ou fora dela, que deram esse passo na mudança de estratégia da captação de recursos, cabe-se repensar, e quem sabe ser ousado, evidentemente, aos poucos, mas sem deixar de ousar nessa mudança, para se poder colher os novos frutos.
Dar passos para que as promoções e festas das igrejas sejam espaços cada vez mais seguros, de confraternização sadia, mostrando que a Igreja é promotora do bem-estar das pessoas, das famílias e da sociedade, e que o dízimo é fruto de uma consciência cristã madura, é o caminho mais sadio e certo na caminhada cristã.
Produção: Setor de Comunicação
Diocese de União da Vitória