A Quaresma é este período rico da nossa fé católica, o qual estamos vivenciando e que nos prepara para o que de mais importante temos nesta mesma fé, o Tríduo Pascal, ou seja, as Solenidades da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
A marca principal do período quaresmal é o seu apelo à conversão, sem a qual não podemos ter acesso aos bens originados da entrega amorosa da vida de Jesus na cruz e de sua ressurreição vitoriosa sobre a morte. A conversão é um movimento interno da pessoa que origina nela uma mudança de mentalidade e de atitudes, revelando uma vida nova, mais conforme ao Evangelho de Jesus. Acredito que entre os apelos de conversão dos tempos atuais, a relação das pessoas com a internet seja um dos mais importantes.
“[…]acredito, portanto, que uma boa penitência deva ter alguma relação com a internet…[…]”
A internet é uma descoberta relativamente recente e trouxe para a vida humana alcances inimagináveis até a pouco tempo. Quem poderia imaginar que poderíamos conversar por meio de chamadas de vídeos com pessoas em todos os cantos do planeta? Quem acreditaria que cirurgias poderiam ser feitas de modo remoto e que conferências não presenciais com especialistas de inúmeros países poderiam ocorrer com tanto sucesso? Na verdade, são inumeráveis os avanços que a cada dia podemos constatar graças ao bom uso da internet.
No entanto, como aconteceu com todas as descobertas humanas, por causa do pecado do ser humano também o mau uso desta ferramenta maravilhosa tem mostrado um potencial que assusta o mundo cada vez mais. Pessoas são enganadas em golpes sem fim, mentiras graves são espalhadas, prejudicando nações inteiras com esses crimes cibernéticos de toda ordem, que têm acontecido em escala sempre mais crescente.
Em relação à conversão quaresmal, o uso que fazemos da internet precisa, por isso, ser também seriamente questionado por nós. Temos notado que estamos cada vez mais dependentes de nossos celulares smartphones, Tablets e laptops. Com muita facilidade conseguimos constatar que familiares ou amigos que se encontram para estar juntos, logo podem ser vistos, cada um deles, voltados para os seus celulares em grande parte do tempo, deixando o encontro entre pessoas cada vez mais escasso. Parece que temos desaprendido a rir juntos sem que haja algum vídeo engraçado a ser compartilhado, uma foto ou qualquer coisa na internet para intermediar nossos encontros.
Noto também que tem crescido em todos nós uma suposta necessidade sem fim de saber todo tipo de notícias a todo o tempo, como se isto fosse algo muito necessário para as nossas vidas e fosse trazer alguma mudança substancial para nós e o mundo à nossa volta.
Constato ainda que as crianças, adolescentes e jovens estão preferindo cada vez mais o mundo virtual, de seus supostos amigos e jogos virtuais, a estar com seus pais, com seus avós e pessoas mais velhas. É como se, de repente, a única fonte válida de conhecimento e alegria saísse dos aparelhos e não das pessoas de carne e osso. E isto, sem falar das dependências sempre mais crescentes de pornografias, de séries com conteúdos de extrema violência, geradores de ansiedade nunca vista entre pessoas tão jovens e da erotização precoce de nossas crianças.
Nesta Quaresma, acredito, portanto, que uma boa penitência deva ter alguma relação com a internet, pois precisamos avaliar seriamente se estamos preparados e se é saudável uma vida tão ligada a ela. Quem sabe não é hora de avaliarmos se o uso que temos feito da internet e das redes sociais tem mesmo nos feito pessoas melhores, mais livres verdadeiramente, mais capazes de amar as pessoas, a começar das mais próximas; se tem contribuído com a nossa fé e se tem ajudado a contribuir com a nossa salvação, razão última do nosso viver?
Por, Dom Walter Jorge
Bispo Diocesano