Homilia de Domingo 25.02.2023
Evangelho
Jesus supera as tentações
1º Domingo da Quaresma
1ª Leitura: Gn 2,7-9; 3,1-7
Sl 50
2ª Leitura: Rm 5,12-19
Evangelho: Mt 4,1-11
-* 1 Então o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2 Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, sentiu fome. 3 Então, o tentador se aproximou e disse a Jesus: «Se tu és Filho de Deus, manda que essas pedras se tornem pães!» 4 Mas Jesus respondeu: «A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.’ « 5 Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o na parte mais alta do Templo. 6 E lhe disse: «Se tu és Filho de Deus, joga-te para baixo! Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra.’ « 7 Jesus respondeu-lhe: «A Escritura também diz: ‘Não tente o Senhor seu Deus.’ « 8 O diabo tornou a levar Jesus, agora para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e suas riquezas. 9 E lhe disse: «Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.» 10 Jesus disse-lhe: «Vá embora, Satanás, porque a Escritura diz: ‘Você adorará ao Senhor seu Deus e somente a ele servirá.’ « 11 Então o diabo o deixou. E os anjos de Deus se aproximaram e serviram a Jesus.
* 4,1-11: Cf. nota em Mc 1,12-13. Mateus pormenoriza, salientando três tentações. Nelas, Jesus é tentado de falsificar a própria missão, realizando uma atividade que só busque satisfazer às necessidades imediatas, buscar o prestígio e ambicionar o poder e as riquezas. Jesus, porém, resiste a essas tentações. Seu projeto de justiça é transformar as estruturas segundo a vontade de Deus (palavra que sai da boca de Deus), não pondo Deus a seu próprio serviço ou interesse (Não tente o Senhor seu Deus), e não absolutizando coisas que geram opressão e exploração sobre os homens, criando ídolos (Você adorará ao Senhor seu Deus…).
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
Comentário
Pecado e Restauração
A Quaresma é, originariamente, o tempo de preparação para o batismo, via de regra, administrado aos catecúmenos (adultos) na noite de Páscoa. Nesta perspectiva situa-se a recordação do pecado nas origens da humanidade: todos precisam de ser salvos em Cristo – o que é o efeito do batismo.
A1ª leitura de hoje narra o pecado do ser humano (Adão e Eva) nas origens(o recorte litúrgico parece um pouco truncado demais) (*). Evoca o contraste entre o carinho do criador e a leviandade do ser humano, que, tentado pelo desejo da experiência do bem e do mal, com a ilusão de se tomar igual a Deus, acaba encontrando-se nu e sem nada. A 2ª leitura é o comentário de Paulo sobre esse episódio: se, solidários com Adão, todos pecam e morrem, muito mais encontram a justiça, a amizade com Deus, em Cristo, pelo qual a graça e a vida entram em nossa existência. (A morte física, para Paulo,já não é aquele “castigo de Adão”, mas a transformação da vida: 1 Cor 15,35-53.)
O evangelho mostra Jesus sendo posto à prova pelo Tentador. Na forma como narra Mt, a última das três tentações é exatamente a de se igualar a Deus. Assim, a resistência de Jesus aparece como a reparação do pecado de Adão. Enquanto Adão preferia conhecer o mal por experiência própria, Jesus é todo obediência a Deus, respondendo ao Tentador com três frases da Escritura, para mostrar que obedecer a Deus está acima do pão, do sucesso e do poder. Nenhuma realidade humana deve ter para nós mais peso do que Deus. No fundo, o pecado é orgulho, achar-se mais importante que Deus. Jesus faz o contrário. E assim fará quem é batizado em seu nome.
Na programação musical desta liturgia observe-se a riqueza dos cânticos, especialmente do salmo responsorial (Sl 51 [50]).
(*) Podemos dizer que o “pecado original” é o mal moral que está na raiz de toda desordem moral do ser humano: a auto-suficiência, a tentação de não reconhecer Deus como última palavra sobre a vida. Mas esse mal foi vencido pela obediência de Jesus, que se uniu à vontade salvadora do Pai até morrer por amor a nós.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Mensagem
A libertação do pecado
Se a Quaresma é um tempo de conversão, deve haver de que se converter: o pecado. Mas para muitos, hoje, já não existe pecado. Sobretudo para os que se iludem com seu aparente sucesso e não sentem na pele quanto seu pecado faz sofrer os outros.
A história humana se move entre o projeto de Deus e o poder do mal.
O mal tenta seduzir o homem para que o adore no lugar de Deus. A 1ª leitura e o evangelho de hoje mostram como Satanás disfarça sua tentação por trás de bens aparentes: conhecimento que nos faz capazes de brincar de deus, satisfação material, poder, sucesso… desde que adoremos o diabo no lugar de Deus!
Todos, desde Adão até nós, caímos muitas vezes, ensina o apóstolo Paulo (2ª leitura). O pecado parece estar inscrito na nossa vida. Chama-se isso o “pecado original” – o mal que nos espreita desde a origem, com as suas conseqüências. Será que se pode atribuir um defeito à nossa origem? Deus não fez bem sua obra? Fez bem, sim, mas deixou o acabamento para nós. Deixou um espaço para a nossa liberdade, para que pudéssemos ser semelhantes a Ele de verdade! E é no mau uso dessa liberdade que se manifesta a força do mal que nos espreita.
Somos esboços inacabados daquilo que o ser humano, em sua liberdade, é chamado a ser. Mas em uma única pessoa o esboço foi levado à perfeição, e essa pessoa nos serve de modelo. Jesus foi tentado, à maneira de nós, mas não caiu, não se dobrou à tentação do “Satanás”, do Sedutor. Ele obedeceu somente a Deus, não apenas quando das tentações no deserto, mas em toda a sua vida, especialmente na “última tentação”, a hora de sua morte. Por isso, tornou-se para nós fundamento de uma vida nova. Reparou o pecado de Adão.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
franciscanos.org.br