O homem sonha com a felicidade, com uma vida harmoniosa, com a paz e com tantas coisas que fazem parte das buscas mais profundas do viver. O homem sonha em ser pleno, em se realizar, espera encontrar o amor, ser amado e amar. Todos desejamos uma vida boa, ter saúde e alegria de viver.
Toda pessoa busca estas coisas de algum modo, mesmo aquelas que as buscam por caminhos tortos, egoístas, caminhos que nunca as farão alcançá-las nem para si nem para os outros. Na verdade, a busca pela plenitude da vida faz parte da existência humana, está como que, impressa em nossos desejos. Por isso, insisto, todos buscam esta realização, mesmo os que não se dão conta disto de maneira consciente, mesmo os que as buscam às avessas.
Aplicamos a Jesus a afirmação de que é “o mais belo dos filhos dos homens” (Sl 45,2), com isto significando que Ele foi a pessoa mais plenamente humana que já viveu neste nosso mundo, o humano único que realizou totalmente em si a imagem e semelhança de Deus, que todos nascemos para ser, mas que não conseguimos ser em plenitude devido ao pecado que habita em nós. Por isso, Jesus é para nós o perfeito modelo do ser humano que nascemos para ser, e a quem devemos imitar.
Ainda há pouco, nós cristãos, celebrávamos a Páscoa, ou seja, a Ressurreição de Jesus. No Tríduo Pascal, passamos antes por sua Paixão, ou seja, pela contemplação dos seus sofrimentos, que culminaram na sua morte de cruz. Por ela, nós O vimos chegar à total doação da sua vida, num amor nunca visto pela humanidade, amor que o levou a assumir todo o mal e o sofrimento do mundo em sua Pessoa, tomando nossas dores e enfermidades, os pecados que nos deformam, e pagando o preço do pecado em nosso lugar.
Na sua cruz, pudemos contemplar um amor tão denso e de tal maneira grandioso, que, apesar da morte o ter conduzido ao túmulo, vimos ao terceiro dia Jesus ressurgir do sepulcro, ressuscitado. Sabemos que o Pai o ressuscitou porque a qualidade do amor de Cristo foi tamanha que a morte não pode deter a força imensa da vida que ele continha. A morte foi derrotada pela força deste amor, que se tornou mais forte do que ela.
Por tudo isto, podemos afirmar que a Ressurreição de Jesus é para a humanidade o caminho da superação de todos os limites que a impedem de alcançar aquela plenitude, aqueles anseios dos quais falávamos no início desta nossa explanação.
Ao celebrar a Páscoa de Jesus, estamos celebrando, portanto, o fato de que em Cristo, Deus abriu um caminho para a realização plena de todos os seres humanos, desde esta vida presente até o seu destino final, na glória junto ao Pai. Jesus ressuscitado é o Caminho, a Verdade e a Vida: o caminho para atingirmos aquela plenitude pela qual anseia a nossa alma, e que, consequentemente nos levará ao Pai, suspiro mais profundo de todos, mesmo daqueles que não o saibam ou não o admitam; a verdade sobre quem somos e sobre o sentido último de toda a existência; a vida, aspiração genuína de tudo o que vive e respira e que não pode ser encontrada apenas na existência deste breve peregrinar sobre a terra.
Este Tempo Pascal, que se completará com a Solenidade de Pentecostes, o envio do Espírito Santo sobre os discípulos, nos convida a “buscar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita do Pai” (Col 3, 1-17), coisas para as quais fomos criados e que são as capazes de nos tornar plenamente realizados. Neste belo e forte Tempo Pascal, somos conduzidos a renovar nossos sonhos, nossa utopia daquela vida bela, de um mundo fraterno, da superação de toda divisão e de todas as guerras, de todas as injustiças; somos impelidos a clamar com uma fé renovada, que venha mais e mais o Espírito de Jesus, Espírito Santo, que renova todas as coisas, que faz arder o nosso peito, que inflama nossa vontade para construir histórias melhores e para sonhar o sonho de amor que Deus planejou para o mundo.
Que venha, pois, o Espírito Santo, que venha o Espírito do Ressuscitado, que renove a cada um de nós e nos faça novas criaturas! Que todos possamos clamar neste Tempo Pascal: “Vem, Espírito Santo e renova a face da Terra! ”
Texto de: Dom Walter Jorge
Bispo Diocesano
Diocese de União da Vitória – PR