O ser humano é por natureza um ser social, gregário. Precisa de outras pessoas para suprir suas necessidades fundamentais de sobrevivência, afeto, proteção, etc., não conseguindo normalmente viver sozinho de modo sustentável e saudável.
A necessidade de conviver com outras pessoas levou ao desenvolvimento da vida social em diversos âmbitos, fazendo florescer aldeias, cidades, nações, organizações diversas, todas fruto da experiência da convivência humana ao longo de milhares e milhares de anos, experimentando altos e baixos ao longo da história.
Viver em sociedade demanda a aceitação de pactos sociais, ou seja, de acordos pelos quais os direitos mínimos de todos possam ser garantidos. É óbvio que também requererá a aceitação de que muitos supostos direitos não poderão ser atendidos, exigindo de todos a aceitação dos limites inerentes ao convívio social. Exemplifico: alguém pode supor ser seu direito escutar música alta ao longo de toda a madrugada, mas a necessidade e o direito ao sono da maioria, exigirá que este alguém tenha que aceitar que haja um horário limite para o seu desejo de escutar música alta. As sociedades não podem se sustentar com mil mundos pensados a partir dos supostos direitos que cada um pensa ter. Mundos com tantos direitos não cabem no mesmo e único mundo no qual todos devemos obrigatoriamente conviver. Os direitos que regem a organização da vida em sociedade deverão ser elaborados por meio da construção e a aceitação de um pacto social justo, que viabilize, portanto, a convivência em sociedade.
Muitas vezes a história testemunhou conflitos motivados pela quebra dos pactos sociais que sustentavam as sociedades, ora motivados pela exaustão de seus modelos, ora produzidos artificialmente por interesses escusos de pessoas ou de grupos. Percebemos atualmente que algumas situações têm levado à exaustão dos pactos sociais.
Constatamos, por exemplo, o acúmulo de fortunas gigantescas nas mãos de uns poucos indivíduos. No entanto, não é possível pensar que se sustente uma sociedade onde seja permitido a alguns acumular fortunas incalculáveis ao passo que a maioria esmagadora da população se veja obrigada a sobreviver com um mínimo de recursos. Se não forem estabelecidas leis que regulem um maior equilíbrio na distribuição das riquezas produzidas, uma sociedade assim estará fatalmente condenada a se autodestruir, pois já traz em si o germe de sua decadência por meio do crescente descontentamento de grande parcela de sua população.
Também não é possível sustentar que os pactos sociais não prevejam mecanismos de reparação das injustiças cometidas por qualquer modelo social, que por ser obra humana, é necessariamente falível, portador de deficiências. Pensar, por exemplo, que uma criança que nasceu em condições precárias para o seu desenvolvimento terá na vida as mesmas chances que uma outra, que nasceu em condições favoráveis, não é sensato nem justo. Assim, sem mecanismos de reparação de injustiças sociais, as sociedades, mais cedo ou mais tarde, pagarão os preços de não lutarem para que todos os seus cidadãos tenham condições dignas para o seu desenvolvimento o mais pleno possível.
As recentes derrocadas de modelos econômicos que apregoavam a intervenção mínima do Estado e a auto regulação das sociedades pelos mercados revelaram que, sem a presença do Estado a garantir pactos sociais que prevejam o máximo de igualdade nos direitos para todos, a paz será sempre mera ilusão. Ao não querer a intervenção do Estado para tanto, acabaremos por ver o ressurgimento de Estados autoritários, como já temos presenciado atualmente, com suas consequentes mazelas.
Diante de um mundo que apregoa a liberdade e o direito como seus bens fundamentais, precisamos zelar para que o uso sábio desses valores contribua para uma vida saudável em sociedade.
Texto de : Dom Walter Jorge
Bispo Diocesano
Diocese de União da Vitória – PR