Além da referência à Dimensão Missionária da Igreja, um dos importantes títulos dados à Mãe de Jesus é celebrado em outubro: Nossa Senhora do Rosário. Instituída pelo Papa Pio V, em 1571, sua Festa Litúrgica é 07 de outubro, em dedicação a vitória dos cristãos na batalha naval de Lepanto, onde em meio à Oração do Rosário, venceram os turcos otomanos.
Um pouco da história da récita do Rosário trazemos aqui, escrita por uns dos padres da Diocese de União da Vitória. A Diocese de União da Vitória tem também a alegria de ter uma de suas paróquias, sendo inclusive Santuário Diocesano, dedicada a este belo título dado à Maria. Rezar o Terço ou o Rosário é oferecer rosas em forma de oração àquela que junto à Jesus intercede por nós, também seus filhos.
Por, Padre Emílio Bortolini.
Amor que Permanece
O Rosário é uma das melhores formas de oração, porque nos liga a Deus, ao próximo e a nós mesmos através da vida de Jesus e da devoção a Maria. Rezar o rosário é olhar para a vida de Cristo com os olhos de Maria, e ver nossa própria vida refletida nos olhos dEle!
O nome “Rosário” significa, “coroa de rosas”, porque cada oração é como se fosse uma rosa oferecida a Nossa Senhora. De fato, a rosa é considerada a rainha das flores, digna de ser oferecida à Rainha do Céu e da Terra, e também expressão de amor, pois sua combinação de beleza, perfume e espinhos é uma imagem perfeita para esse sentimento tão belo e forte!
Há quem ache essa oração monótona e repetitiva. Monótona não é, pois, embora as orações se repitam, cada dezena lembra um momento diferente da vida de Cristo. Quem medita os mistérios, jamais vai achá-la monótona. Repetitiva até é, mas quem disse que isso é ruim? Quantas vezes você já disse “bom dia”? E, se um dia, uma pessoa não lhe responde, como você se sente? Se ela disser “você já disse isso ontem, anteontem, semana passada, para que ficar repetindo de novo? ” Não será ridículo? Quantas vezes você repetiu a sua esposa, marido, pais, filhos, amigos que os ama? E isso é ruim? De forma alguma! Cada vez que alguém diz “eu te amo” é diferente, é única, porque o tempo passa, as situações mudam, os estados de ânimo não são os mesmos, mas, no meio de todas as mudanças, a repetição mostra que o amor se sustenta e permanece. Assim, quando repetimos a Ave Maria mostramos a constância do nosso amor para com nossa mãe.
Foi desse amor constante, que permanece através de todas as mudanças, que nasceu o Rosário.
Desenvolvimento
Logo no início do Cristianismo surgiram pessoas que queriam se dedicar exclusivamente à Oração, chamados de “Monges”, que rezavam todos os 150 Salmos todos os dias! Os que não eram alfabetizados, rezavam 150 Pai-nosso no lugar dos 150 Salmos. Por trás disso estava uma intuição de que a Oração do Senhor é como que um resumo de toda a Bíblia. Mais tarde, surgiu o costume de rezar 150 Ave Marias, fazendo como que um “Saltério Mariano”.
Na Idade Média, o surgimento das Ordens Cisterciense (1098) Franciscana e Dominicana (século 13) deu um grande impulso à devoção mariana. E é exatamente ao fundador dos Dominicanos, S. Domingos de Gusmão, que se atribui a criação do Rosário, quando, em 1214, desanimado com os poucos frutos de sua pregação contra os hereges, teve uma visão de Nossa Senhora, na qual ela lhe dava um Rosário, apontando assim a oração como fonte da eficácia da pregação.
Mas foi somente 150 anos mais tarde, no ano 1365, que o Monge Cartuxo Henrique de Halkar, separou as 150 Ave Marias em quinze dezenas, com um Pai Nosso entre elas.
Percebendo o grande valor dessa oração, muitos papas incentivaram-na, não só em homilias e mensagens, mas até escrevendo encíclicas inteiras sobre ela. De todas, essas, a mais importante é a “Rosarium Virginis Mariae” de João Paulo II, de 2002, que acrescentou os Mistérios Luminosos.
Vemos, portanto, que o Rosário não surgiu por acaso, mas foi sendo construído ao longo dos séculos, brotando da experiência espiritual dos monges, da devoção do povo simples, das reflexões de grandes teólogos e santos, e apoiado pelo Magistério da Igreja.
A capa do Quebra-cabeça
Quando falamos em “mistérios”, referimo-nos a acontecimentos da vida de Jesus. Não significa que não possamos saber nada sobre eles, mas que, como tudo o que se refere a Deus, eles superam nossa compreensão. E isso é bom, porque garante que nunca vamos enjoar deles, sempre haverá algo novo a ser descoberto. É como tomar água. Não precisamos secar a fonte (ou o rio ou a caixa d’água) para nos sentirmos saciados, mas ficamos felizes por não sermos capazes de fazê-lo, pois, quando tivermos sede de novo, haverá mais água para saciar-nos.
Por meio dos mistérios, recordamos toda a vida de Jesus. Os “Gozosos” nos recordam os primeiros acontecimentos, a infância; os “Luminosos” tratam da vida pública; os “Dolorosos” apresentam o sofrimento, e os “Gloriosos” a Vitória Final de Cristo.
Conhecer a vida de Jesus é essencial para compreendermos a nossa própria vida. Se você já montou um quebra-cabeças, sabe que a melhor maneira de o fazer é olhando para a capa, pois ali a cena está inteira, enquanto que nas peças ela está dividida em muitos pedaços. A nossa vida é como se fosse um quebra-cabeças, que, cada dia traz peças novas. Quando não entendemos o porquê de uma determinada situação, é porque faltam as peças ao seu redor, que completam a figura. Para achar o lugar delas, olhamos para a vida de Jesus, que, por estar completa, é como a capa, que nos orienta a encontrar o lugar certo de cada peça, e a olhar a vida com outros olhos.
Os Mistérios do Rosário, portanto, são uma Escada e uma Ponte. Escada, porque nos conduzem a Deus, elevam a Ele toda a nossa vida. Ponte, porque nos conectam ao nosso íntimo e a nossos irmãos, criando laços de amor. Rezemos sempre o Rosário. Não necessariamente inteiro todos os dias, mas, mesmo que seja alguns mistérios por dia, certamente fará muito bem. E aproveitemos o mês de outubro para fazer um “intensivo”.
Contribuição: Pe. Emílio Bortolini Neto
Par. Santa Bárbara – Bituruna