Por, Dom Walter Jorge
Assim como é o oxigênio para os pulmões, assim é a oração para alma. Sem a oração, a alma não respira, não se recupera dos cansaços múltiplos da vida, não se refaz por meio daquele encontro silencioso e saboroso com Aquele que a criou.
É por meio da oração, que nos recentramos, voltando àquilo que é essencial e deixando de lado o que é superficial e desnecessário, o que não deve consumir as nossas melhores energias.
A oração é aprendizado, pois requer uma espécie de “treinamento”, a fim de se adquirir aquela necessária sensibilidade ao que é imperceptível aos sentidos, mas capaz de extasiar o espírito, dando à vida o verdadeiro sabor. Na verdade, é como se ela fosse capaz de despertar “sentidos” adormecidos, os sentidos do espírito humano, revelando à pessoa realidades novas, tão superiores àquelas captadas pelos sentidos do corpo, que dá à vida uma orientação sempre nova e surpreendente. A oração faz a gente começar o viver o céu na terra, pois nos sintoniza de tal modo com o divino que já nos permite perceber uma outra realidade por detrás da realidade.
Mas, se a oração é aprendizado, há que se ter uma escola de oração, um lugar e mestres capazes de ensinar a pessoa a rezar. Entre tantas escolas de oração, destaco que a família é das mais importantes e, entre os mestres, os pais são os primeiros na tarefa de despertar os filhos para a maravilha de se ser capaz de orar em espírito e em verdade.
Assim como as crianças são despertadas para gostarem de tantas coisas das quais os pais gostam por ver sua paixão por tais coisas, como por exemplo, um time de futebol, o gosto pela leitura, o amor pelos bichos, etc, assim é necessário que também sejam despertadas para a oração desde pequeninas, pois quanto mais cedo se consegue sensibilizar alguém para o que é importante, tanto maior será a energia que tal pessoa investirá naquilo ao longo da vida. Crianças que são despertadas por seus pais para o mundo espiritual terão muito mais chances de se tornarem homens e mulheres de oração no futuro.
Como estamos no mundo da correria, é preciso atentar para cada pequena chance para a oração em família. Assim, rezar antes das refeições, ensinando a criança a viver na gratidão e no compromisso com a partilha; rezar antes de ir dormir, revendo o dia vivido, pedindo perdão a Deus pelos erros e refazendo o propósito de retomar o bom caminho; conseguir um momento para uma pequena leitura da Bíblia, numa linguagem adaptada às crianças ou ainda, rezar o terço em família diariamente, são importantes dicas de como educar nossas crianças para a oração, evitando que elas fiquem entregues a um mundo de dispersão e de muitos apelos nem sempre saudáveis.
Pais que rezam e que rezam com seus filhos, certamente terão muito menos dissabores com eles em relação ao perigoso mundo das drogas, da sexualidade mal vivenciada, do relativismo de valores, dos apegos a coisas indevidas. Pais que frequentam as missas com suas crianças desde pequenas, explicando para elas o sentido do que fazem, certamente verão seus filhos crescerem como cristãos de fato e não apenas de nome.
Os difíceis tempos da pandemia que estamos atravessando nos têm revelado o quão frágil é a existência humana sobre a terra. Há que aprendermos com tantos sofrimentos importantes lições e fazer escolhas mais acertadas neste pequenino tempo que é a vida aqui.
Entre os muitos bens necessários que os pais deverão dar aos seus filhos, certamente o despertar para Deus por meio da oração é dos mais importantes tesouros.
Dom Walter Jorge Pinto
Bispo da Diocese de União da Vitória – PR