Por, Dom Walter Jorge Pinto – Bispo Diocesano
O Brasil está vivendo verdadeira agonia com o atual cenário da pandemia da Covid-19. Reina, além de um cenário de morte, o da confusão acerca das medidas para o correto enfrentamento da doença.
No Salmo 1 Deus fala que diante de nós há dois caminhos: aquele que conduz à vida e o que conduz à morte. Defensor incondicional da humanidade, o Senhor não tem dúvidas ao nos orientar em toda a Bíblia a favor da vida, dizendo com firmeza: “escolhe, pois, a vida! ” (Cf. Dt 30,19)
De fato, a vida será sempre a escolha certa em todos os momentos. Sobretudo quando houver dificuldade em saber o que fazer, quais medidas tomar, a escolha pela vida não deixará dúvidas de que se escolheu o caminho certo.
Diante do que está acontecendo no Brasil e no mundo, não há dúvidas de que a vida deve ser a bússola para escolhermos corretamente. Se fizermos de modo diferente, a história vai nos condenar, sem dúvida alguma.
Quando falamos em escolher a vida, estamos dizendo em escolher tudo o que colabora para que a vida seja mantida. Assim, escolher a vida na situação atual do Brasil é escolher salvar as pessoas da morte, mas salvar também toda estrutura que concorra para a promoção da vida das pessoas. Deste modo, não se pode em pensar salvar a vida sem salvar os meios econômicos de sustentação para a mesma. Portanto, não se pode ficar criando falsos dilemas na hora de tomar as medidas corretas. Há que se ponderar: é possível manter abertas atividades humanas tais como comércio, escolas, igrejas, etc e ao mesmo tempo assegurar de verdade a não contaminação das pessoas pelo vírus da Covid-19? Se há (e quem devei dizer isto não são teorias fundadas em “achismos”, mas dados com comprovação científica), mantenhamos tudo isto aberto, mas se os dados científicos afirmam o contrário, temos que colocar a segurança da vida humana como critério do correto discernimento e fechar tudo, quanto tempo e quantas vezes for necessário.
Mas, fique bem claro o que desejo afirmar: ao mesmo tempo que se fecha tudo, os governos, sobretudo o federal, precisam prover meios de sustentação das escolas, dos pequenos e médios comerciantes, dos autônomos, das igrejas, enfim de toda a população, assim como se faz em tempos de guerra. Assim como muitas vezes socorreu bancos que estavam quebrando, a bolsa de valores, grandes empresas, etc, usando para isto bilhões e bilhões de dólares, por que não pode socorrer as pessoas, o próprio povo agora? Por que, numa hora de aflição como esta há que se ficar ponderando se o mercado vai reagir favoravelmente? Até quando o mercado financeiro vai se sobrepor à vida das pessoas e, num caso como este de calamidade, à vida de um povo inteiro? Por que temos que salvar as finanças de quem já é bilionário e deixar milhares ou talvez milhões de pessoas morrerem, para que tais pessoas continuem bilionárias? Por que, numa hora em que o futuro se revela sombrio para milhões, não se pode afetar o lucro de uns poucos, para quem a maioria tem trabalhado há anos?
Redes farmacêuticas gigantescas, distribuidoras de bebidas que formam verdadeiros conglomerados, montadoras de veículos e centenas de multinacionais, jogadores de futebol milionários e tantos outros precisam continuar vivendo em suas bolhas riquíssimas sem serem afetados em seus lucros, enquanto a maioria da população pena com ajudas miseráveis, comerciantes fecham seus negócios e multidões ficam desempregadas?
O mais triste ainda é ver os que estão sendo as maiores vítimas acharem que é preciso expor todos ao aumento contínuo dos riscos porque precisam ganhar algum dinheiro. Não percebem que a retomada da própria economia, como alertou até mesmo o ministro da economia recentemente depende da recuperação das pessoas. Não percebem que tentando salvar a sua pele, acabam por se arruinar e arruinar o País inteiro.
Convido a todos a rezarmos mais, pois esta Pandemia precisa nos ensinar também lições espirituais, que gerem mais conversão e temor de Deus. Mas, rezemos também para que a economia esteja a serviço da vida de todos agora e sempre.
Texto: Dom Walter Jorge Pinto
Bispo Diocesano
Diocese de União da Vitória