Esta afirmação é antiga e sabemos o quão acertada é. As ideias fazem o mundo andar, o lançam adiante. Se alguém não tem ideias claras e distintas, não sabe onde quer chegar, acaba vivendo à mercê da vida, que passa diante dos seus olhos, sendo conduzido por ideias alheias. Ideias são, portanto, coisas poderosas e estão na base das ações.
Mas, nem todas as ideias são boas, como nem tudo o que reluz é ouro. Desde a Antiguidade, os sofismas eram conhecidos pela filosofia como pensamentos que pareciam corretos e lógicos, mas que na verdade escondiam mentiras que se queriam vender como verdades.
Vivemos hoje um fenômeno, que embora antigo, tem ganhado grande força com o advento da comunicação massiva por meio das redes sociais: o fenômeno das fake news. Traduzida, a expressão significa “notícia falsa”. Mas, podendo significar mais do que simples notícias, as fake news podem também veicular ideias falsas. E como afirmamos acima, repetindo a sabedoria antiga, “as ideias movem o mundo”. Assim, como podemos afirmar que boas ideias movem o mundo para o progresso verdadeiro, para o crescimento do bem, da verdade e da justiça, também podemos dizer que as más ideias produzem o movimento contrário.
Portanto, todos devemos estar muito atentos para o fato de nos apropriarmos sempre mais das boas ideias, levando-as adiante em vistas ao bem de toda a humanidade, bem como devemos nos vigiar para não comprarmos uma ideia mentirosa como se fosse uma verdade.
Há um tempo atrás andando pelas ruas do centro de nossa cidade, ouvi dois senhores conversando e os ouvi repercutindo uma ideia que alguém veiculou há algum tempo de que no Brasil não existia índio, mas existia apenas brasileiros. Ou seja, todos os habitantes do Brasil seriam apenas brasileiros.
Embora não seja de todo falsa, esta ideia traz embutida dentro de si muitos caminhos para raciocínios enganosos e que podem levar a conclusões perigosas. Seria como falar que no Paraná não existem poloneses, mas somente brasileiros. Sim, podemos dizer que todos os poloneses nascidos no Paraná são brasileiros por cidadania, mas não deixam de ser poloneses por causa de sua ascendência, cultura e tradições. Da mesma forma, podemos dizer que todos os índios nascidos no Brasil são índios brasileiros, mas não deixam de ser índios, ou povos originários, como querem alguns. Afirmar apenas que são brasileiros pode trazer danos imensos a tudo o que diz respeito à sua cultura, ao seu amor por seus ancestrais, às suas tradições e, inclusive, aos direitos relativos ao seu modo de viver.
Como dissemos no início deste artigo que ideias movem o mundo, bastou os senhores que ouvi conversando se apropriarem da ideia simplória de que os índios não passam de simples brasileiros como todos os demais, para começarem a afirmar que não havia razões para terem terras demarcadas e que não havia sentido o seu modo de viver suas tradições ainda hoje, já que deveriam viver como todos os brasileiros. Daí para justificar invasões em suas terras por grileiros e mineradores e a exploração das florestas onde vivem foi apenas um passo.
Semelhante fato tem se dado com a difundida ideia de que o comunismo está tentando dominar o nosso mundo. Sem qualquer análise crítica mais apurada, milhares de pessoas têm comprado esta ideia como verdadeira e a partir dela, justificando a defesa de ações sociais em favor dos empobrecidos como verdadeiros ataques comunistas. De tal maneira esta ideia tem movido sentimentos, que basta dizer a palavra ‘pobre’ para alguém ser olhado com suspeita de ser comunista. Com um discurso simplista e infundado como este, muitos têm esvaziado a Doutrina Social da Igreja, hoje quase um tabu para eles, tirando do Evangelho de Cristo sua base fundamental acerca do amor ao próximo, sobretudo o próximo empobrecido.
Ideias movem o mundo. Que ideias têm movido você?
Contribuição: Dom Walter Jorge
Bispo Diocesano
Diocese de União da Vitória – PR