No dia 07 de março, às 19h30, o Instituto de Filosofia e Teologia Santo Alberto Magno (IFTESAM), do Seminário Diocesano Rainha das Missões, promoveu a Aula Inaugural do Ano Letivo 2019.
Aberto ao público, o evento contou com a presença de membros do clero da diocese, da diocese de Caçador – SC, de lideranças leigas, seminaristas diocesanos e religiosos, além de Dom Walter, bispo emérito. O evento que aconteceu na Igreja do Seminário, em União da Vitória, também acolheu pessoas de outras denominações religiosas.
Abordando o tema, “Igreja em diálogo no contexto do pluralismo religioso. ‘Uma abordagem da Espiritualidade do diálogo inter-religioso: contribuições na perspectiva cristã’, Elias Wolff, padre da Diocese de Lages – SC, doutor em Teologia, e membro do Programa de Pós-Graduação em Teologia da PUCPR, em Curitiba – PR, apresentou algumas atitudes para os cristãos dialogarem com outras religiões, sendo elas: a Fé; a Conversão; a Escuta; e, o Serviço. “É a fé que me leva a compreender o modo de crer do outro. À medida em que nós dialogamos, vamos vivendo o Evangelho e buscando a Unidade. É importante saber que o Espírito age de várias formas, e a Verdade, venha de quem vier, se for Verdade, ela vem do Espírito Santo”, explicava padre Elias.
Ao dizer que Ecumenismo é acolher no coração o outro na sua diferença de pensamento, o padre alertava que diálogo exige escuta. “Acolher e dialogar com o outro de outra religião exige deixar de lado qualquer barreira, ou preconceito. Preciso acolher o modo diferente de pensar, pois ali também pode estar a ação de Deus. Jesus Cristo veio para todos, não só para o cristianismo”, motivava ele à reflexão.
Atuante também como coordenador do Núcleo Ecumênico e Inter-religioso da PUCPR e coordenador da Comissão Teológica do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, o palestrante, citando o teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, indagava aos participantes sobre a presença de Deus nas outras religiões. “Será que as religiões diversas já não são as sementes da bondade e do amor de Deus? Precisamos rever a origem das religiões apenas como criação humana, mas como criação de Deus. Assim perceberemos nelas os elementos de Verdade e Santidade, como refletia o Concílio Vaticano II. Na História da Salvação de Deus não estão somente os cristãos, mas todos; toda a humanidade”, afirmava ele.
Entre outras interrogações colocadas para o público, antes de concluir, Elias ainda explicou porque a missão de evangelizar deve continuar ainda que Deus esteja salvando a humanidade de diversas formas. Segundo ele, o objetivo da missão não é trazer pessoas para a Igreja, mas construir o Reino. “O centro da missão evangelizadora não é trazer pessoas para a Igreja, mas para o Reino de Deus, para o encontro com Jesus. Formar comunidade é um meio para se construir o Reino, sendo que Deus Salva pela Igreja e por outros meios também. Mas é importante que as pessoas usem a reta consciência para buscar a Verdade”, alertava. Após suas colocações foi aberto ao público espaço para perguntas.
Em entrevista ao jornal Estrela Matutina, o conferencista alertou para o perigo de pensamentos fundamentalistas dentro do ambiente eclesial. “Nem todos os Movimentos eclesiais católicos ou de outras religiões compreendem que o Espírito tem formas de agir muito além deles. E infelizmente, um outro ambiente são algumas Casas de Formação dos futuros padres ou Faculdades de Teologia. Aqueles que deveriam ser promotores do diálogo com o diferente, as vezes causam muita dificuldade de dialogar com as diferentes formas de crer”, lamentou ele.
Segundo padre Elias, Jesus deu um imperativo: “Que todos Sejam Um”; é uma ordem, não uma exortação suave.
Perguntado sobre como as pessoas, familiares, vizinhos, podem buscar uma aproximação quando as diferenças religiosas causa afastamento, padre Elias incentivava à humildade como uma primeira ação de aproximação. “Cada pessoa tem que ter a consciência que não conhece a totalidade da fé e não é o mais perfeito aos olhos de Deus. Então é importante ser humilde e respeitar a liberdade do outro viver sua crença”, motivou ele.
Ainda em entrevista ao jornal da Diocese, questionado sobre aqueles que buscam criar sua própria religião, o padre lembrou a importância da tradição. “Eu não posso inventar um credo. Embora algumas pessoas inventem um credo, religião é uma tradição, no sentido de que tem uma história. Religião implica em uma fidelidade à um conteúdo de fé que eu recebi, e não que criei. É uma pena que muitas pessoas de nossas comunidade se deixem levar pelas forças do individualismo e do pragmatismo de hoje, que fragilizam os pilares da fé”, lamentou o padre.
Padre Mário Glaab, diretor do IFTESAM, que trouxe o palestrante após ter tido contato com sua obra sobre o tema do Diálogo Inter-Religioso, em uma conferência de teologia, agradeceu ao entusiasmo dos participantes em acolherem as reflexões do evento e motivou que voltassem para suas casas e comunidades com o propósito de buscarem a unidade e o diálogo, mas sem perderem os valores que sustentam a fé que vivem. Como expressava o conferencista: “É no acolhimento e no diálogo com as diferentes formas de crer, que o cristão também afirma que Jesus Cristo é o único Salvador da Humanidade”, pois Cristo veio para salvar a todos.
Acompanhe a Entrevista com o professor Elias Wolff.
Entrevista e Fotos: Marcelo S. de Lara
Filmagem e Edição: Wagner Bohn e Maurício Tab
Setor de Comunicação da Diocese
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