Por, Paulo Eduardo de Oliveira. paulo.eduardo.oliveira@hotmail.com
Em nossos dias, as pessoas se orgulham por viver na assim chamada “sociedade do conhecimento”. De fato, a ciência e a técnica tornaram-se elementos muito valorizados na sociedade dos nossos dias. Muitas famílias fazem grandes sacrifícios para que seus filhos tenham acesso à educação e possam, assim, desfrutar de todos os benefícios dessa sociedade que fez do conhecimento um de seus maiores ícones.
A Igreja não é contra o conhecimento e a ciência. Na Encíclica Fides et Ratio, por exemplo, o Papa João Paulo II apresentou uma profunda reflexão sobre o modo como a fé e a razão, sem se opor, servem como as duas asas que nos permitem voar para a busca do sentido da vida e a busca do próprio Deus.
Porém, é preciso que nós compreendamos a necessidade de ir além da simples ciência e do mero conhecimento intelectual. A humanidade, mais do que em qualquer outra época de sua história, é carente não somente de conhecimento, mas sobretudo de sabedoria. E podemos dizer ainda mais: as famílias são carentes de sabedoria. O mundo atual teima em deixar as pessoas vivendo na superfície, na casa, nas aparências: o consumismo, a busca do prazer pelo prazer, o relativismo moral, o cultivo dos interesse pessoais acima dos interesses comuns, as vaidades e futilidades deste mundo… etc… fazem as famílias se concentrarem nas coisas que passam, deixando de lado as coisas que permanecem. Por isso, as famílias precisam de sabedoria.
A sabedoria vai além do conhecimento, porque ela não coloca seu foco apenas na mente, mas também no coração. Jesus elogiou as pessoas simples por sua sabedoria, não apenas pela sua ciência: “Eu te louvo, ó Pai, porque ocultaste estas coisas aos entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25). A sabedoria não é apenas um olhar para o mundo exterior, mas sobretudo compreender a própria interioridade, o próprio coração, assim como Deus nos conhece, como reza o salmista (Sl 139,1).
É neste sentido, da necessidade de sabedoria, que o Papa João Paulo, na Exortação Familiaris Consortio assim escreve: “Põe-se assim a toda a Igreja o dever de uma reflexão e de um empenho bastante profundo, para que a nova cultura emergente seja intimamente evangelizada, sejam reconhecidos os verdadeiros valores, sejam defendidos os direitos do homem e da mulher e seja promovida a justiça também nas estruturas da sociedade.
Em tal modo o ‘novo humanismo’ não afastará os homens da sua relação com Deus, mas conduzi-los-á para Ele mais plenamente. Na construção de tal humanismo, a ciência e as suas aplicações técnicas oferecem novas e imensas possibilidades. Todavia, a ciência, em consequência de posições políticas que decidem a direção de investigações e aplicações, é muitas vezes usada contra o seu significado originário, a promoção da pessoa humana. Torna-se, portanto, necessário recuperar por par te de todos a consciência do primado dos valores morais, que são os valores da pessoa humana como tal.
A nova compreensão do sentido último da vida e dos seus valores fundamentais é a grande tarefa que se impõe hoje para a renovação da sociedade. Só a consciência do primado destes valores consente um uso das imensas possibilidades colocadas nas mãos do homem pela ciência, que vise verdadeiramente a promoção da pessoa humana na sua verdade integral, na sua liberdade e dignidade. A ciência é chamada a juntar-se à sabedoria” (Exortação Familiaris Consortio, n. 8).
E assim conclui São João Paulo II sua reflexão,
“Podem aplicar-se aos problemas da família as palavras do Concílio Vaticano II: ‘Mais do que os séculos passados, o nosso tempo precisa de uma tal sabedoria, para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Está ameaçado, com efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria’.
A educação da consciência moral, que faz o homem capaz de julgar e discernir os modos aptos para a sua realização segundo a verdade originária, torna-se assim uma exigência prioritária e irrenunciável. É a aliança com a sabedoria divina que deve ser mais profundamente reconstituída na cultura moderna. De tal Sabedoria cada homem foi feito participante pelo mesmo gesto criador de Deus. E é só na fidelidade a esta aliança que as famílias de hoje estarão em grau de influenciar positivamente na construção de um mundo mais justo e fraterno” (Exortação Familiaris Consortio, n. 8).
Rezemos pedindo a Deus, para nossas famílias, o dom da Sabedoria. Que pai e mãe sejam sábios para educar os filhos. Que os filhos cresçam no conhecimento das coisas da vida, mas sobretudo na sabedoria que conduz à verdadeira Vida.