Por, Paulo Eduardo de Oliveira. paulo.eduardo.oliveira@hotmail.com
A família ainda tem valor nos tempos atuais? Ainda vale a pena investir na construção de uma família? Qual é o destino da família nesses tempos de crise de valores? Essas perguntas revelam o drama em que a instituição familiar encontra-se mergulhada. São João Paulo II, sensível a este drama da família, assim escreveu: “A família nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura” (Exortação Familiaris Consortio, n. 1).
Um dos instrumentos sociais mais críticos em relação à família são os meios de comunicação social. Como escreveu São João Paulo II:
“é mais que sabido que os instrumentos de comunicação social influem, e muitas vezes profundamente, quer sob o aspecto afetivo e intelectual, quer sob o aspecto moral e religioso, no ânimo de quantos os usam, especialmente se jovens. Podem ter um influxo benéfico sobre a vida e sobre os costumes da família e sobre a educação dos filhos, mas escondem também insídias e perigos consideráveis, e poder-se-ão tornar veículo – às vezes hábil e sistematicamente manobrado como infelizmente acontece em vários países do mundo – de ideologias desagregadoras e de visões deformadas da vida, da família, da religião, da moralidade, não respeitosas da verdadeira dignidade e do destino do homem” (Exortação Familiaris Consortio, n. 76).
De fato, olhando-se como os meios de comunicação tratam a família, podemos notar o quanto a instituição familiar está cada vez mais menosprezada: as novelas, por exemplo, fazem de tudo para mostrar a destruição da família como um fato “normal” e “corriqueiro”, que não deve nos preocupar nem nos tirar o sono. Não há uma novela em que os temas do divórcio e da traição não sejam “inocentemente” tratados, de modo a fazer com que as pessoas (e também as crianças e os jovens) achem que as coisas são assim mesmo e que não podemos nadar contra a corrente.
Em sua Mensagem para a Jornada Mundial das Comunicações Sociais, em 2004, assim escreveu o Papa João Paulo II: “a família e a vida familiar são, com muita frequência, descritas de maneira inoportuna pelos meios de comunicação. A infidelidade, a atividade sexual fora do matrimônio e a ausência de uma visão moral e espiritual do pacto matrimonial são apresentadas de modo acrítico, enquanto, às vezes, apoia-se o divórcio, a anticoncepção, o aborto e a homossexualidade”.
O divórcio foi se tornando cada vez mais facilmente aceito na sociedade moderna, sobretudo no século XX. A escalada da legalização do divórcio revela algo como uma mundanização da família, afastando-a cada vez mais do projeto original de Deus. No Brasil, o divórcio foi aprovado em 28 de junho de 1977. Para muitas pessoas, formadas pela mentalidade dos tempos modernos, a lei de Deus pesa pouco diante dos interesses pessoais e dos próprios desejos, muitas vezes alimentados na fonte do egoísmo e de uma falsa noção de liberdade. Muitos se esquecem das consequências traumáticas que o divórcio pode causar, como revelam alguns estudos recentes.
As palavras de Jesus “O que Deus uniu o homem não separe” (Mt 19,6) soam, para muitos, como uma obrigação moral sem sentido, diante de um mundo que grita alucinado novas regras de vida: “curta a vida, seja feliz, busque o prazer a qualquer custo, seja você mesmo, não se reprima, não siga a moral do rebanho, siga seus impulsos e seus instintos…”. Para muitos devotos dos tempos modernos, Freud e Nietzsche parecem muito mais simpáticos e interessantes do que Jesus Cristo. Esses profetas do mal, infelizmente, são livremente pregados até mesmo em escolas e universidades católicas, influenciando terrivelmente na formação da consciência moral das crianças, dos adolescentes e dos jovens.
No entanto, como cristãos, não podemos deixar de proclamar o valor da família. Não podemos deixar de gritar, com voz mais forte do que as vozes do mundo, que “o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade” (São João Paulo II, Exortação Familiaris Consortio, n. 1). Rezemos pelas nossas famílias, para que o poder do mal não jogue lama nessa maravilhosa obra de Deus.
É sobretudo aos jovens que nós devemos proclamar, sem medo de parecer antiquados, “a beleza e a grandeza da vocação ao amor e ao serviço da vida” (São João Paulo II, Exortação Familiaris Consortio, n. 1), para que eles não se deixem iludir pelas propostas sedutoras daquelas formas de relacionamento que são muito mais egoísmo do que autêntico amor.