Na cidade de União da Vitória, sede da Diocese, alguns padres diocesanos, religiosos, irmãs religiosas e leigos desenvolvem um importante trabalho social no trabalho de atendimento, acompanhamento e tratamento de pessoas mais vulneráveis. São trabalhos que vão desde o aspecto educacional na formação da cidadania e da fé, ao cuidado com dependentes químicos de drogas lícitas e ilícitas, idosos e pessoas esquizofrênicas.
Nesta edição, trazemos uma entrevista com o padre diocesano Iomar Otto, assessor da Pastoral da Sobriedade, e presidente da Associação Recanto da Sobriedade (ARES), que há 15 anos coordenada um belíssimo trabalho na recuperação de dependentes químicos e no tratamento de esquizofrênicos.
Nas próximas edições você conhecerá outras Instituições e trabalhos sociais desenvolvidos em União da Vitória por religiosos e leigos.
Estrela Matutina: Como surgiu o projeto do ARES?
Pe. Iomar: Nossa Instituição surgiu através das Pastoral da Sobriedade mesmo. Nos primeiros encontros nacionais e regionais em que fui, era pedido que todas as Dioceses tivessem uma Instituição para cuidar de pessoas com dependências químicas. Em conversas na época com Dom Walter que era nosso bispo, ele incentivou para que se desenvolvesse então esse trabalho na diocese. Então eu e mais algumas pessoas começamos.
Estrela Matutina: Qual o objetivo do ARES?
Pe. Iomar. Nosso objetivo é trabalhar no tratamento com pessoas dependentes de drogas químicas lícitas ou ilícitas mas também cuidamos de pessoas com transtornos mentais. Atualmente estamos atendendo mais pessoas com transtornos mentais, pois os dependentes químicos estão sendo mais atendidos hoje pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), que existem nos municípios e estão ligados ao órgão público.
Começamos a trabalhar com os doentes mentais porque muitas famílias hoje não tem condições por falta de tempo para acompanha e dar as medicações.
Estrela Matutina: Quais são as Dimensões que a Pastoral da Sobriedade trabalha?
Pe. Iomar: A Pastoral trabalha 5 pontos: A Prevenção, com trabalhos de divulgação de informação em palestras nas Igreja e escolas; A criação de Grupos de Ajuda como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, que é o momento de trazer as pessoas para ajudar a entender a dependência química; A Recuperação, pela criação das Instituições, Casas de Apoio. A Reinserção Social, na ajuda a voltar ao convívio familiar, de trabalho e estudo. A Atuação Política, na criação de Conselhos como o Conselho Municipal Antidrogas (COMAD).
Estrela Matutina: Quais as exigências perante a Lei a Instituição enfrenta?
Pe. Iomar: A Lei nos cobra muito para estarmos dentro do padrão de uma clínica, e aqui não é propriamente uma clínica pois não temos todos os profissionais que uma clínica deve ter. É preciso ter recursos financeiros para manter profissionais e uma estrutura como uma clínica tem. Por isso, estamos buscando ajuda para poder manter esse nosso trabalho que vem também em auxílio do próprio município. Fazer caridade é muito bom, mas é preciso caminhar dentro das leis que nos cobram muito na atualidade.
Estrela Matutina: Como sobrevive a Instituição?
Pe. Iomar: Na verdade estamos sempre correndo atrás de ajuda. Atualmente contamos com a ajuda do poder público que nos encaminha alguns profissionais para como assistente social, nutricionista e a médica psiquiatra. Sentimos a falta de profissionais para trabalhar aqui dentro. Somos carentes de profissionais preparados para esse tipo de trabalho hoje, pois exige capacidade, perseverança e paciência. Temos também alguns benfeitores que nos oferecem materiais de construção, madeira, alimentação, material de higiene, produtos naturais. Alguns programas do Município as vezes nos favorecem em alguma coisa, e contamos com voluntários que doam cestas básicas.
Estrela Matutina: Mesmo com os desafios, quais são as alegrias nesse trabalho?
Pe. Iomar: Se conseguirmos recuperar um por ano já é uma alegria. Temos pessoas que se recuperaram aqui e que hoje nos ajudam com trabalho e com doações. O fato de prolongar a vida deles, de dar uma casa, alimentação na hora certa, não os deixar jogados pela rua, e ser uma família para eles já é uma alegria. O processo de uma recuperação é lento, mas gera sim bons resultados.
Janaina Fernanda Colombolli Turek,
é técnica de enfermagem, e atua no ARES há dois meses e pouco. Com todo cuidado com os medicamentos e a atenção dadas aos internos, Janaina comenta que não vê dificuldades ao trabalhar com eles. “É sempre um gesto bonito ver uma família ajudar outra quando não tem alguém por eles. Não vejo dificuldade no trabalho com eles. Eu adoro ficar aqui. Quando não venho até sinto falta”, diz Janaina, com sorriso de contentamento.
Depoimento de ‘seu Arnaldo’
Há treze anos livre do Alcoolismo, Arnaldo Sérgio Kobesk agradece muito ao ARES que lhe deu vida nova. Hoje aos 71 anos de idade, Arnaldo é voluntário no cuidado aos outros pacientes e relembra triste a perda da esposa e o afastamento dos filhos por causa da bebida. “Eu tinha perdido completamente o controle, chegava a beber quase oito litros de cachaça por dia. Perdi minha esposa e me afastei dos meus oito filhos homens e uma moça. Eu já estava no estado de delirar”, relatou Kobesk.
Para seu Arnaldo, as palestras e as orientações que aprendeu no ARES foram o que fez pensar em sua vida. “Nas conversas que nós tínhamos, quando eu deitava na cama eu não pensava na bebida, mas sim naquilo que eles me falavam. Ganhei muitos anos de vida a mais e acho que vou longe ainda”, diz seu Arnaldo contente.
*O ARES atende hoje 15 internos e conta com a ajuda do padre Iomar como psicólogo, uma técnica de enfermagem, dois monitores e uma médica psiquiatra. Segundo padre Iomar, a Instituição tem capacidade para atender até 20 pessoas colocados em quartos individuais, ou até 30 internos, porém com alguns dividindo o mesmo espaço no quarto.
Alguns espaços já estão sendo melhorados e ampliados, mas para mais rápido atender uma demanda que veja a surgir, o ARES depende de benfeitorias.
SERVIÇO:
Associação Recanto da Sobriedade (ARES)
Rua: Pedro Kravicz, 143, Bairro São Sebastião
União da Vitória – PR
Fone: (42) 999537054; (42) 998011694
Para Doações:
Banco Itaú; AG3861; CC: 36196-6
Associação Recanto da Sobriedade (ARES)
Entrevista e fotos: Pe. Marcelo S. de Lara
Assessor da Pascom