Evangelho
Quem está unido a Jesus produz frutos
1ª Leitura: At 9,26-31
2ª Leitura: IJo 3,18-24
Evangelho: Jo 15,1-8
-* 1 «Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que dêem mais fruto ainda. 3 Vocês já estão limpos por causa da palavra que eu lhes falei. 4 Fiquem unidos a mim, e eu ficarei unido a vocês. O ramo que não fica unido à videira não pode dar fruto. Vocês também não poderão dar fruto, se não ficarem unidos a mim. 5 Eu sou a videira, e vocês são os ramos. Quem fica unido a mim, e eu a ele, dará muito fruto, porque sem mim vocês não podem fazer nada. 6 Quem não fica unido a mim será jogado fora como um ramo, e secará. Esses ramos são ajuntados, jogados no fogo e queimados.»
O fruto do discípulo é o amor –* 7 «Se vocês ficam unidos a mim e minhas palavras permanecem em vocês, peçam o que quiserem e será concedido a vocês. 8 A glória de meu Pai se manifesta quando vocês dão muitos frutos e se tornam meus discípulos.
* 15,1-6: A comunidade cristã não é uma instituição, mas uma participação na vida de Jesus. Unido a Jesus, cada membro é chamado a testemunhá-lo, colocando a comunidade em contínua expansão e crescimento.
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
Comentário
Cristo a Videira, nós os ramos
No A.T., a “vinha de Javé” era Israel. Mas não produziu seu fruto. O NT traz uma parábola de Jesus, dizendo que foram os vinhateiros que não quiseram dar a devida parte do produto ao proprietário; este, depois de ter mandado servos, enviou finalmente seu próprio filho, mas os vinhateiros o mataram, e a vinha foi dada a outros arrendatários. Assim, a vinha se tornou imagem do novo povo de Deus. É nesse sentido que Jo recorre à imagem da videira (evangelho). Decerto, ela se aplica em primeiro lugar a Jesus mesmo: “A verdadeira videira sou eu”(em oposição à videira provisória ou tipológica, que era Israel). Mas trata-se de Jesus unido aos seus: naqueles que estão unidos a ele é que Jesus produz os frutos que glorificam o Pai, os frutos da caridade (cf. próximo domingo).
Além da idéia principal – produzir frutos pela união vital com Cristo -, encontramos também algumas aplicações secundárias da imagem: a poda, que significa a purificação pela palavra de Cristo, pela opção que esta nos impõe; ou, no caso dos ramos secos, a condenação.
Em que consiste essa união vital com Cristo? Em permanecer em sua palavra, o mandamento do amor fraterno. É o “amar, não só com palavras, mas em atos e verdade”, de que fala a 2ª leitura. Esse “amor eficaz” faz com que reconheçamos que “somos da verdade” e tenhamos paz em nosso coração. Para João, a verdade se mostra em gestos concretos. Com seu estilo associativo, Jo passa a outra idéia: se nosso coração não tem paz, mas nos condena, que fazer então? Então devemos crer que Deus é maior que nosso coração. Se nosso coração nos acusa, devemos confia-lo a Deus: conversão. E se não nos acusa, podemos viver da comunhão com Deus, pedindo o que um filho pode pedir do Pai (1Jo 3,22; cf. Jo 15,7).
Na 1ª leitura continua a história da primeira comunidade cristã. Traz o relato de Lucas referente às primeiras atividades apostólicas de Paulo, seu contato com os apóstolos de Jerusalém, mediante Barnabé, suas discussões com os judeus do helenismo (Paulo e Barnabé eram judeu-helenistas), sua missão a Tarso. Na Carta aos Gálatas, Paulo descreve este período, dizendo que “viu” somente a Pedro; mas isso não contradiz o que Lc aqui escreve. Quer dizer que Paulo só submeteu seus planos ao chefe dos apóstolos, Pedro, e não está sob a jurisdição do chefe da igreja de Jerusalém, Tiago, para o qual apelam os “judaizantes”, que Paulo combate na carta. Podemos, portanto, dizer que, desde a sua primeira atividade, existe harmonia dos principais apóstolos em torno da missão de Paulo. A comunhão preconizada pela imagem da videira é uma realidade.
A liturgia de hoje oferece ensejo para realçar a unidade da “mesa da Palavra” e da “mesa eucarística”. O canto da comunhão sugere essa ligação. A linguagem dos símbolos poderá visualizar que a “videira verdadeira” (cf. liturgia da Palavra) produziu, como primeiro de seus frutos, o “vinho da salvação”, ou seja, o sangue derramado na cruz (cf. liturgia eucarística). Os nossos frutos deverão ser da mesma natureza!
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Mensagem
Jesus, a Videira, nós os ramos
Na liturgia dos domingos depois da Páscoa aprofundamos o mistério do Senhor Jesus glorioso, no qual transparece o amor do Pai, fonte do seu amor por nós e de nosso amor aos irmãos e irmãs. Isso fica claro de modo especial hoje, na parábola da “videira” (evangelho).
No Antigo Testamento, a vinha de Deus era o povo de Israel. Diz o profeta Isaías que Deus esperava dessa vinha frutos de justiça, mas só produziu fruto ruim (Is 5). Jesus mesmo contou uma parábola acusando, não a vinha, mas os administradores, porque não queriam entregar ao “Senhor”(= Deus) a parte combinada e quiseram apropriar-se da vinha (= o povo), matando o “Filho” (= Jesus) (Mc 12,1-12). No evangelho de João, Jesus modifica um pouco essa imagem. Não fala numa plantação inteira, mas num pé de uva, uma videira. Ele mesmo é essa videira. O Pai é o agricultor que espera bons frutos, e nós somos os ramos que devemos produzir esses frutos no fato de nos amarmos uns aos outros como Jesus nos amou. Pois Jesus recebeu esse amor do Pai, e o fruto que o Pai espera é que partilhemos esse amor com os irmãos (cf. também próximo dom.).
”A vinha verdadeira sou eu”- Jesus, unido aos seus em união vital. Essa união consiste em que permaneçamos ligados a ele, atentos e obedientes à sua palavra, ao seu mandamento de amor fraterno. E também, unidos entre nós, pois todos os ramos da videira recebem sua seiva do mesmo tronco, que é Jesus. A 2ª leitura de hoje explica isso melhor: fala do amor eficaz, o amor que produz fruto, não só “em palavras”, mas “em ações e em verdade” (1Jo 3,18-24). Tal amor eficaz faz com que tenhamos certeza de sermos “da verdade”. Por isso podemos ter paz no coração, pois sabemos que Deus se alegra com os nossos “frutos” e vence o medo e a incerteza de nosso coração (= consciência), mesmo se este se inquieta por nossas imperfeições (3, 20-23). Deus é maior que nossos escrúpulos.
Esse modo de falar nos faz ver a Igreja de outra maneira. Já não aparece como um poder ao lado do poder político, como uma “organização” burocrática, mas como um “organismo vivo” de amor fraterno. Na Igreja, Jesus e nós somos uma realidade só. Vivemos a mesma vida. Ele é o tronco, nós os ramos, mas é o mesmo pé de uva. Somos os produtores dos frutos de Jesus no mundo de hoje. Para não comprometermos essa produtividade, devemos cuidar de nossa ligação ao tronco, nossa vida íntima de união com Jesus, nossa mística cristã – na oração, na celebração e na prática da vida. Produzir os frutos da justiça e do amor fraterno e unirmo-nos a Cristo na oração e na celebração são os dois lados inseparáveis da mesma moeda. Não existe oposição entre a mística e a prática. Importa “permanecer em Cristo”. A Igreja ama Jesus, que ama os seres humanos até o fim, e por isso ela produz o mesmo fruto de amor. A Igreja vive do amor que ela tem ao amor de Jesus para o mundo.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes